MILHO AOS POMBOS
De coração foram ditas as palavras mais sinceras
E ao som da música que tocava a pedido de ouvinte
Veio à lembrança imagens que se tinha esquecida.
E a memória que não pede passagem
Invadiu e turvou pensamentos tidos mais sérios
Só nos seus devaneios ficou
E no meio da multidão tornou-se invisível.
A criança que brincava com seu colorido carrinho
Desse mundo não tinha outras razões
E daquele momento que lhe enchia as faces
Via-se a felicidade faltosa quando se tem questões a tratar.
No bar da periferia
Um vivente arqueado pela idade
Que se supõe avançada
De gole em gole
Recita poemas dos clássicos.
Quem será?
Aquele que transparece sofrimento
E já tendo as pernas trêmulas sai
E num impulso incontrolado
Ao solo vai e fica
E todos
Impedidos pelos copos cheios
Nada fazem e voltam a suas rotinas.
Sabe-se que a cena outrora presenciada
Diferente do cinema que repete tantas
Quantas forem necessárias
Deu-se apenas uma única vez.
E o filme da vida que não cobra ingresso
Nem estréia marcada a espera
Não passou para novas platéias
Foi somente um curta de uma longa vida
E o premio?
O descanso a todos reservados.
E assim
Nessa cidade que a todos engole
Também acaricia.
E a vida segue seu curso
Nem que seja ficar numa praça dando milho aos pombos