MILHO AOS POMBOS

De coração foram ditas as palavras mais sinceras

E ao som da música que tocava a pedido de ouvinte

Veio à lembrança imagens que se tinha esquecida.

E a memória que não pede passagem

Invadiu e turvou pensamentos tidos mais sérios

Só nos seus devaneios ficou

E no meio da multidão tornou-se invisível.

A criança que brincava com seu colorido carrinho

Desse mundo não tinha outras razões

E daquele momento que lhe enchia as faces

Via-se a felicidade faltosa quando se tem questões a tratar.

No bar da periferia

Um vivente arqueado pela idade

Que se supõe avançada

De gole em gole

Recita poemas dos clássicos.

Quem será?

Aquele que transparece sofrimento

E já tendo as pernas trêmulas sai

E num impulso incontrolado

Ao solo vai e fica

E todos

Impedidos pelos copos cheios

Nada fazem e voltam a suas rotinas.

Sabe-se que a cena outrora presenciada

Diferente do cinema que repete tantas

Quantas forem necessárias

Deu-se apenas uma única vez.

E o filme da vida que não cobra ingresso

Nem estréia marcada a espera

Não passou para novas platéias

Foi somente um curta de uma longa vida

E o premio?

O descanso a todos reservados.

E assim

Nessa cidade que a todos engole

Também acaricia.

E a vida segue seu curso

Nem que seja ficar numa praça dando milho aos pombos

silvio lima
Enviado por silvio lima em 04/10/2009
Reeditado em 04/10/2009
Código do texto: T1846789
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