"NON FINITO" (Contemplando escultura inacabada de Michelangelo Buonarroti)
Vejo-me prisioneiro
deste mármore gelado
que é meu limitado corpo
em que Kronos é o carcereiro
e Angústia, companheira de cela...
Desejava interiormente
surgisse ardente escultor
que, com seu cinzel quente
rompesse o frio mármore!...
E Michelangelo,
o divino "Bom-nas-Artes",
toma para si a obra
de libertar-me desse corpo
e lançar-me num sem-limites!
Seria eu finalmente
qual fóton, a correr livremente
penetrando o Universo
de toda forma e matéria?...
Inexplicavelmente
silencia o martelo
e voa o Artista
em direção a uma Obra Maior
na Eterna Cidade...
E percebo-me agora
na suprema angústia
de sentir na face livre vento
e não poder acompanhá-lo...
pois mergulhado ainda
na pedra-de-sepulcro
desta obra inacabada!
Vejo-me assim
ainda prisioneiro da História
como escravo de um Senhor Corporal
que sente passar pelas entranhas
o sopro da Liberdade!
Seria esse fatalmente
o fim de nossa Obra?
- Viver como Ilusão
todo anseio de Eternidade?!
Na busca do por quê
deste que parece sempre
cruel destino humano,
percebi, enfim:
onde trabalhara o cinzel
desvelando-me as formas,
continuava presente em mim
o mármore que me tolhia...
Cabe a cada um, portanto,
aquecer a forma que nos compõe
essencializando a aparência
fazendo resplandecer a essência
no conjunto da Grande Obra:
- a arte de ser,
um Ser em Arte!