CAMINHO DE
SANTIAGO DE COMPOSTELA
EU ESTIVE LÁ...
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Era junho do ano de 1996. No sudeste do Brasil o inverno chuvoso tingia tudo de cinza enquanto na Europa, lá no hemisfério norte, tudo refletia os raios dourados do sol de verão...
Saí da bruma e do frio de São Paulo e, depois de 10 horas de vôo, já estava inserido, magicamente, no calor de Lisboa. Após me instalar em um hotel confortável na região central da cidade, resolvi sair para degustar as delícias da culinária portuguesa nos inúmeros café-bares das charmosas alamedas lisboetas; isso, ao som de românticos fados... Ah, como é bom se deleitar com essas pequenas coisas!
No dia seguinte fui fazer um passeio pelos pontos turísticos, começando pela Torre de Belém, às margens do Rio Tejo. Lá, contemplando a paisagem, fui remetido a um passado distante, época em que as caravelas percorriam o Rio Tejo até ganharem o Oceano Atlântico, rumo ao Caminho das Índias.
"Foi daqui que Cabral saiu há 496 anos para atingir as costas do Brasil..." - pensei poeticamente.
Do outro lado da avenida estava o Mosteiro dos Jerônimos, outro monumento histórico de Portugal, cujos recintos testemunharam séculos da vida religiosa portuguesa. Simplesmente deslumbrante!
Eu na Torre de Belém, com o Rio Tejo ao fundo
Na sequência eu fui até o Cabo da Roca, extremo oeste do continente europeu, onde pude sentir o forte vento do Oceano Atlântico que, a partir daquela ponta de terra, se mostrava misterioso e assustador.
"Lá do outro lado, milhares de quilômetros à oeste, está o continente americano" - pensei, saudoso do Brasil.
Cabo da Roca, extremo oeste do continente europeu
Sedento de novas descobertas, aluguei um carro em Lisboa e peguei a auto-estrada na direção da cidade do Porto, 400 km ao norte... No caminho aproveitei para fazer alguns desvios para conhecer as cidades de Tomar, Batalha, Alcobaça, Nazaré, Braga, Coimbra, Fátima, Sintra, Guimarães e algumas aldeias. Ao chegar, finalmente, na cidade do Porto, me aventurei nas vinícolas às margens do Rio D´Ouro, onde vinhos portuenses eram oferecidos para degustação aos visitantes estrangeiros. Ao cair da tarde fui conhecer a ponte de aço projetada por Eiffel (o mesmo da torre de Paris), que interliga duas regiões da cidade do Porto.
Embalado pelo meu espírito aventureiro, resolvi dirigir-me ainda mais para o norte daquele país acolhedor, chegando até Viana, região de Trás-Os-Montes repleta de construções medievais. Lá, minha imaginação me conduziu aos tempos das conquistas e das invasões do século 12, que moldaram Portugal como nação independente. Parecia até que eu ouvia o tilintar das espadas dos guerreiros medievais em luta...
E foi nessa região que comecei, intrigado, a deparar com algumas placas à beira da estrada com os dizeres:
CAMINHO DE SANTIAGO - ROTA SUL
Como estava viajando sem destino certo, resolvi seguir aquelas placas até passar por uma enorme e moderna ponte pensil onde, no outro extremo, surgiu uma enorme placa com a mensagem
Bienvenido a España
"Nossa! Entrei na Espanha sem parar no posto fronteiriço..." - murmurei preocupado.
Já estava procurando o meu passaporte quando me lembrei que o controle fronteiriço entre os países signatários da União Européia tinha sido abolido. Coisas de Primeiro Mundo. Relaxei e, então, prossegui na minha viagem, já em solo espanhol...
Estava na região espanhola da Galícia e fui passando sem pressa pelas bucólicas províncias espanholas de Ourense e Pontevedra até chegar em Vigo, linda e romântica cidade portuária!
Eu em Vigo, já na Espanha
Já satisfeito com a minha exploração turística, comecei a pensar em voltar... Mas algo muito forte e inexplicável "estava me empurrando cada vez mais para o norte"... Aquelas placas sinalizadoras do Caminho de Santiago pareciam me perseguir. Ou era eu que as estava perseguindo, inconscientemente?
Deixei-me, então, ser conduzido por elas...
Após percorrer de carro mais 80 km, fui parar numa cidade chamada Santiago de Compostela, onde, a partir de determinada área, o trânsito de veículos era proibido. Estacionei o carro e comecei a andar até encontrar um grupo enorme de andarilhos.
"Como esta cidade tem pedestres!!! Eles estão indo, com certeza, para algum lugar turístico interessante... Vou segui-los" - pensei.
Conforme caminhava fui sendo tomado por uma energia contagiante, emanada pelos peregrinos que entoavam canções ou rezavam em voz alta em línguas incompreensíveis... A multidão multi-étnica só parou quando chegou a uma praça enorme, em frente a uma grande catedral em estilo gótico...
Catedral de Santiago de Compostela, com a praça em frente
Só então me dei conta que fizera a ROTA SUL do CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA e que chegara ao meu destino: a CATEDRAL!
Às vezes precisamos sair sem destino para vivenciarmos os momentos mais marcantes de nossa existência terrena...
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