Aflições e Casos Desconhecidos
Fred não suportava mais as surras que sofria toda vez que seu pai chegava em casa bêbado,
E isso era quase todo dia,
Usando sempre blusas de manga longa para esconder os hematomas dos espancamentos.
Cansado de tanto sofrer,
não pensou mais duas vezes e se enforcou na sexta-feira santa em seu próprio quarto,
ao som de The Smiths.
Ana só tinha oito anos quando foi estuprada por seu próprio tio,
Nunca mais foi a mesma garotinha.
Viciou-se em cocaína, em uísque, em lança-perfume e maconha.
Sua mãe não suportava mais sua rebeldia e o dinheiro que gastava em clínicas de desintoxicação para a filha,
Ana pôs fogo na cama da mãe enquanto ela tinha ido trabalhar,
Tirou as lâminas do barbeador do seu irmão mais velho,
E cortando os pulsos no banheiro escreveu com sangue no espelho:
_ Por favor, me perdoem.
Carlos tinha perdido seu filhinho atropelado quando o mesmo passeava de bicicleta,
Ele só tinha onze anos.
Carlos fez terapia por dois anos,
E cada vez mais atormentado com as lembranças de seu único filho,
Atropelado por um jovem drogado,
Tendo sido abandonado pela sua própria esposa que não tinha mais paciência de vê-lo se autodestruindo de tanto beber,
Carlos concluiu que seu tormento só teria fim de um jeito:
Segurando uma foto onde registrava seu filhinho, ele e sua esposa sorrindo em um lindo parque,
E na outra mão um 38 apontando para sua cabeça,
As lágrimas escorriam de seu rosto,
Carlos só queria ver de novo o sorriso tão lindo de seu filho,
E os vizinhos ouviram o som de um disparo,
E um silêncio ensurdecedor inundou toda aquela casa.
Rodrigo só tem 29 anos de idade,
há sete ele luta contra uma doença incurável,
seu fígado, rins e seu coração estão pra lá de comprometidos.
Rodrigo tinha tantos sonhos,
mas o médico o avisou que seu tempo de vida são poucos meses.
Antes que a doença o torne num vegetal ambulante humano,
Rodrigo caminha até o rio que fica próximo de sua casa,
faz uma prece para a vida e para o univeso,
e aos prantos, sozinho, com tanto medo que não dá pra expessar,
Rodrigo se atira no rio, e fica propositalmente imerso lá,
e seu corpo tão deteriorado pela doença flutua poeticamente
no âmago do rio,
e isso me lembra a escritora Virginia Woolf.
Daniel tomava Risperidon, fluoxetina, Biperideno, e Lítio pela manhã,
Sertralina e Imipramina ao meio-dia,
E Risperidon, Lítio e Clonazepam à noite,
Todos os dias...
Mas suas angústias só aumentavam,
Suas aflições existenciais e filosóficas se expandiam dentro de sua mente,
E enquanto Daniel ouvia "No Surprises" da banda Radiohead,
Ele ingeriu quarenta e dois comprimidos misturados de seus antidepressivos e antipsicóticos,
E finalmente o coração de Daniel concedeu descanso ao corpo e a mente
daquele misterioso jovem.
E quem sou eu para julgá-los,
E chamá-los de covardes, ou de coisas semelhantes!
É tão difícil viver em um mundo onde se cultiva a apatia, o egoísmo e a banalidade da violência e das emoções humanas...
Acaraú, 01 de Setembro de 2009
OBS; DEDICO ESTE POEMA A MEUS AMIGOS LENNO, REGIBERTO E INÁCIO, MEUS GRANDES AMIGOS QUE SEMPRE ESTARÃO EM MEU CORAÇÃO.