Abraço Postal

( pro meu amigo Zé Vitinho )

Na sexta passei, na porta parei, prá cima olhei e gritei:
- Ôh Zé Vitinho !
Sem resposta, sozinho caminhei.
No sábado, janela aberta arrisquei:
- Ôh Zé Vitinho !
Viajou, não viajou, viajei...
Vencido, sozinho de novo caminhei.
No domingo de carnaval não chamei.
Semana em branco passei.
Na segunda interfone toquei, com dona Crô falei,
ao Zé Vitinho ordenei:
- ponha um tênis e bermuda.
Na porta esperei.
Muito descrente o achei, não gostei.
Vamos caminhar; chamei.
Aperta o estômago daqui, aperta dali, perguntei:
Está passando mal?
Não! É que tá tudo muito ruim, uma bosta!
Pensei;
prá Sartre a vida é náuzea, Buda renega o ego, Yung com aquela estória de inconsciente coletivo, coisa e tal, todos inteligentes e deprimidos; eh, talvez tenham razão!
Andamos! Prá frente andamos!
O ouvido emprestei.
Na terça, animado retornei, de pronto o encontrei, piadas ouví e contei.
Na quarta telefone tocou, dona Crô avisou, Zé Vitinho esperou.
Caminhamos, da mocidade lembramos e debochamos, de rir choramos, atenção chamamos, andar com o outro nunca mais -
não dá: juramos.
Na volta, no bar do Manoelzinho paramos, com Robson Fausto encontramos, a festa de domingo programamos, mais deboches juntamos, moela sem sal jantamos, prá casa finalmente desci. Banho tomei, a alma lavei, o corpo enxuguei, cansado deitei.
Acordei, por outra não esperei, o computador liguei.
Pronto! Agora me achei!
O computador fechei, pela cidade andei, no correio passei, um abraço postei.

Afonso Rêgo - fevereiro de 1999
Afonso Rego
Enviado por Afonso Rego em 01/10/2009
Reeditado em 15/09/2020
Código do texto: T1841326
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