OS RIOS DA MINHA VIDA

O rio corre manso, devagar, sonolento, deixando as margens férteis e tranqüilas. Só os patos selvagens, estouvados, acordam o rio. Nem o sol ardente, as nuvens apressadas fazem o rio mudar seu curso. Será que os peixes aproveitam a calmaria do rio para um bom sono?! Tem mesmo que aproveitar, pois, de repente, uma canoa afobada balança o silêncio.

Como são altas a barrancas do Rio São Francisco! Nelas meu tio espetava anzóis de espera para, no dia seguinte, pegar os peixes. Dia desses fui com meu tio. Eram quatorze anzóis. Só no décimo quarto vimos o anzol correr veloz para cá, pra lá. Da canoa meu tio foi puxando o anzol. Um peixe enorme quase nos derrubando para ocupar seu lugar na canoa. Dava rabanadas de um jeito que só faltei pular da canoa. Nisso meu tio pegou nas mandíbulas do bicho e foi abrindo até fazer “crack” e o bicho morreu. Ficou quietinho no fundo da canoa. Tive pena, muita pena! O peixe que descia rio, subia rio... namorando as piabas.

Rio São Francisco tão belo visto do avião! Uma cobra gigantesca, volumosa, esparramando afluentes por vários estados. Todavia o rio cansa de ser manso. De repente encrespa, levanta seu corpo e espreguiça jogando água por todos os lados. São as famosas enchentes, raivosas, num acesso de loucura, vão derrubando casas, plantações, animais... O rio, também, tem seus limites, seus estresses, precisa desabafar... Mas, nem assim é inconseqüente. Como desculpa pelos danos causados, deixa suas margens adubadas, para um belo plantio.

O curso do rio é determinado por Deus (quando o homem não atrapalha). Ele segue o seu destino enfrentando obstáculos na certeza de encontrar o MAR; atravessa veredas, despenca dos montes, hospeda amigos que engrossam suas águas, abriga lavadeiras, pescadores, garimpeiros... É caminho para grandes e pequenas embarcações. Foi nas águas barrentas de um rio que aprendi a nadar. O rio passava no fundo do quintal da casa de uma amiga. Minha mãe tinha pavor! Mas, eu fugia e, só de calcinha, caíamos no rio que nos acolhia e... dando braçadas, sozinhas, aprendemos a nadar. Oh! Rio São João da minha infância!

Gostaria muito de ser como um rio; adubar as minhas margens para que elas produzissem bons frutos. Gostaria de ser abrigo para as pessoas. Gostaria de ser caminho para buscas. Gostaria de ser fonte de energia para aqueles que precisam. Só não quero transgredir as regras da natureza e virar pântano. Só quero mesmo viajar no meu leito, em silêncio, bem tranqüila, sem travessias, com amor e liberdade, até encontrar o mar.

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 30/09/2009
Código do texto: T1839451
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