CEGOS E SURDOS

Não ouse a ousadia dos recalcitrantes

Obstinados nos seus interesses e indiferentes

Abandonam às primeiras intervenções

As defesas aos gritos defendidas.

E já à amostra a máscara caída

Deles advém a covardia outrora

De coragem por muitos chamada.

E assim impedem a ação e de caras à amostra

Amarram a vontade e amortecem os ânimos

E favorecem os oportunistas sempre à espreita

De plantão e prontos à servidão voluntária

Não se constrangem e já não se escondem.

E de mãos estendidas nada conseguem

E só trazem aos lhos dos outros

A vergonha por infrutífera tentativa.

E nos rostos da massa crença

Denuncias da exploração tornada pública.

Nos gabinetes memorandos e relatórios

Repousam nas prateleiras da burocracia

Viciada e comprometida com a elite que governa

Protela para os dias que nunca chegam

Decisões e respostas sempre adiadas.

E ainda assim

A massa crença e moribunda

Entrega-se às vozes inesperadas

E de dedo em riste o líder ordena

E o populacho obediente abandona

À sorte seus irmãos de miséria e sofrimento

E a sentença de todos já é conhecida.

Sobre o cadafalso, trêmulos

O sangue quase a jorrar pelas artérias

Estão o algoz e o criminoso.

O primeiro cumpre sua função

De executar os indesejáveis, os baderneiros

O segundo teve a petulância de questionar

Quando tudo é feito para conformar

E ambos, vítimas do mesmo sistema

Entreolham-se e não falam absolutamente nada!

O que estariam fazendo

Se não fossem face e contra-face duma mesma moeda?

Talvez, sugere um dos que assistem ao grande espetáculo

Estivessem aqui sendo autores e personagens da história

Da história? Pergunta um terceiro

Sim. Da história, responde o outro.

Solene, altivo e ereto como deve ser o homem de poder

Sobe ao patíbulo e num gesto religiosamente observado

Pela multidão da à ordem teatralmente gesticulada

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Silenciosamente vai saindo a seleta platéia

E sob tétrica chuva a praça mostra

Em movimentos pendulares

O corpo do petulante ser que ousou pensar.

E todos calados lamentam

E seguem as suas casas para os afazeres

E assim seguem suas vidas de lutas e silenciosos pensamentos.

silvio lima
Enviado por silvio lima em 30/09/2009
Reeditado em 04/10/2009
Código do texto: T1839275
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