[No chão...]
No chão úmido do quarto estendo minha esteira e deito com o corpo amornecido, à noite a lua pequena cabe na abertura da portinhola, a brisa toca suave meus cabelos, a janela se abre lentamente... Tudo é leve e delicado como uma pétala que flutua na face cansada do tempo...
Na ruminância da madrugada, umas sessões de amor, gemeções no quarto ao lado e eu a imaginar as posições dos amantes e onde toca cada ruído, cada urro, os corpos se batem, as carnes se chocam, as falas se perdem no abafado dos beijos... O tempo vai à lona. Água musicando os movimentos do corpo no banho apressado, chacoalhado... Depois, o rítmico ronco do homem tal qual seus avanços de encontro a carne da sua fêmea, como um suicida avança para o fundo do mar... só que agora esquecido, morto.
A rede pendurada no vazio navega barco no quartinho, o chão também balança na bambeza do acaso, e mina água das paredes como um mar misterioso e de um infinito que se alastra e se mistura...
Amanhece como uma explosão de espumas na praia deserta. Algas na areia, som de águas, a luz do sol bruxuleia no azul mareado do quarto, se roçam as folhas do coqueiro, o galo canta já cansado, o malandro vendo a porta aberta me pede fósforo... , todos querem fogo para os seus modos. O mangue desperta, incensa cheiros acre-doce-acre-doce, e rumina-se numa espécie de esgotamento... O quarto acorda e tudo é descoberto cintilando seda.