[Recriançando Minhas Dúvidas]
A medida que o corvo sinistro,
firma as suas garras em mim,
uma dúvida, uma pergunta antiga
reacende-me na mente:
mas... e se antes de o corvo me levar,
caíssem todos os meus cabelos,
como é que ia ser, como?!
Que figura hilariante eu não seria,
sendo carreado para o Hades,
[parcas flores mereço, eu sei...],
frio, hirto, todo paramentado,
e com uma moeda para Caronte,
mas... sem os meus cabelos?!
Ah, frio na espinha...
que medo é maior,
o comum a todos, o da morte,
ou o da queda dos meus cabelos?!
Sobrevoo-me, e não entendo
como posso agora estar
a me lembrar de dúvidas
que eu tinha, ainda criança...
Será que eu não cresço nunca?!
Ara... esse tal corvo, Caronte, o Hades...
Ah, para que fui ler tanto,
para que fantasiei tanto...
Ou será que refantasio, recrio,
recrianço as minhas dúvidas?
Também, eu reconheço, só dou
asas a essas idéias com valentia
de sol quente... à noite, não!
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[Penas do Desterro, 29 de setembro de 2009]