Quisera eu um coração de marinheiro...
Quisera eu um coração de marinheiro...
Arrisco um louco pensar. Ainda que fugaz. Um desejar.
Quiçá um revelar.
Segredar talvez...
Queria ter um coração de marinheiro. Poder ir e voltar.
Partir e chegar. Aportar.Ancorar.
Depois içar velas, novos mares singrar,
Alçar outros horizontes, solta, leve, flutuar.
Amores leves e breves, volúveis e solúveis, amores de só navegar.
Paixões distribuídas tanto quanto o aportar.
Recolhidas na hora de zarpar, ou soltas, postas ao mar.
Quereres que fizessem sorrir, nunca chorar,
Plenos sem lamentar, amores de libertar.
Isento transitar, infinito é só o mar, Ondas e ondular.
Ah... Quisera um amor assim sentido, ao sol um desejar,
Na noite ao luar um entregar.
Intenso e infindo de delicado cumular.
Que a tantos e a muitos pode ao mesmo tempo se dar,
Afeição de maresia viva ao sabor das marés, encher, vazar,
Subir, secar, pleno de viajar.
Encontros com cheiros das águas, vestígios de vento e de sol, enleio de balançar.
Seria esse o deleitoso desvario do meu sonhar.
Diferente e comovente.
Livre, do sofrer e solidão ausentes.
Repentino e envolvente,
A se repetir sempre, brevemente...
Nunca em um só lugar presente....
Das inconcebíveis saudades,
Do calor vindo de um novo encontrar.
Novidade do lugar, dos ares e dos mares,
Do permitido novo chegar,
Diverso novo enveredar.
Distinto ao se dar.
Ah, quisera ou quem dera um assim amar
Quem dera um coração de marinheiro,
Quisera como ele se portar,
Nunca uno, de alguém inteiro,
Sempre partilhando, partilhado, verdadeiro,
Livre,
Amor sem machucar...
Intenso por não perdurar....
Somente amar...