Chaves de Mim
Chaves de mim
Vou te contar um segredo, minha amada, oculto no mais profundo recanto de minha alma inquieta.
Para que me encantes a maior parte do tempo, nunca sejas previdente, prisioneira de uma insuportável rotina:
Antes, prefiro-te até impertinente; todavia, jamais te quero maçante, previsível como a chegada das longas noites do invernal solstício.
Opte por me feir com a letal surpresa de um ataque de águia a perseguir a fugitiva lebre, pegando-a antes que se proteja em sua toca.
Dá-me porções do teu amor da mesma maneira como o faz a mãe-pássaro: regurgitando na boca de seus filhotes o alimento que lhes garante a vida.
Tenha sempre em tuas mãos a precisão de um maestro conduzindo sua orquestra em um allegro majestoso, pleno de hiperborea grandeza.
E então, com a sacralidade de um hierofante, guarde ciosamente nosso amor a salvo de profanos olhares.
É preciso mergulhar bem mais fundo para se pescar as melhores pérolas; mesmo que esse mergulho nos conduza às terríveis abissais profundezas de nós mesmos.
João Bosco