Nossas Gertrudes
Sobre a vida de Gertrudes
Que se muito fala
São os seus princípios
Que à mostra estão.
Vejam lá a Gertrudes, formosa, de saia
Saindo pra comprar pão
Ela recebe todos os olhares
Curiosos, de baldão.
Na feira, nem de ceia
Serve aos vizinhos de petiscos
Das suas falas, dos seus comentários
Das suas maledicências.
Pobre Gertrudes!
Dia ou noite, está na boca do povo
Não se importuna, nem com o carteiro
A fitar suas pernas, seu jeito, sua fala
E como fala!
Gertrudes é amiga, sorri a todos
A transmissão da empatia
Intrínseca lhe é.
Poderia lhe ser mais, bem mais!
Olha agora, Gertrudes sentada!
Na varanda, de fronte ao jardim
As camélias lhe escondem as coxas
Está na cara dela que não é feliz
E há de existir uma moça como essa, satisfeita?
Nas janelinhas se debruçam todos
Pobres vizinhos!
Procuram na vida da pobre Gertrudes
Um arrimo às suas crises
De vida rasas como pequenas poças ensangüentadas.
Nobre Gertrudes!
No dia de sua morte, esteve ainda na boca do povo
Não se retiveram, nem com o coveiro
A secar suas poças pelo ausentar de seus assuntos
E como os tinham!
Resta-lhes chorar a ausência da moça
E passar mais dias, debruçados às janelinhas
À espreita, procurando figura nova
A compor suas rasas e inúteis vidas.