Com essa ou sem Hexa (variações sobre "Com Copa ou sem copa" - do mesmo autor)

Pensem na rosa de Vinícius

e nos seus riscos...

Pensem na brutalidade que impera neste país, exterminando (oficialmente, em meras notícias populares!) 400 vidas! numa sangrenta-brasileira semana de maio de 2006.

Pensem no jovem-detonauta, detonado de forma cruel numa das perigosas esquinas deste Brasil-Bundão.

Pensem na nossa própria – oh, pátria amada! - violência!

Pensem nos PCCs e/ou CVs, ou ainda ninguém reparou na lua rubra rolando pelo céu brônzeo-já-não-mais-anil?

Pensem na poetisa Orides Fontela, cuja recente morte pôs termo a uma existência de total abandono, de nenhum reconhecimento.

Pensem em Brasília, palco da insensatez nacional.

Pensem nas nossas meninas e meninos, ao longo de 8.000 km de litoral, a saciar os desejos libidinosos de turistas indecorosos.

Pensem nos milhares de precoces jovens talentos, em suas idades, sem experienciar a felicidade tanto no estudo quanto no trabalho.

Pensem na veloz devastação da flora amazônica, com o acinte da nossa covarde resignação.

Pensem nos milhões de desempregados, acossados, desamparados, envergonhados, desprezados e humilhados; dos sem ações por causa dos sem-corações.

Pensem na irmã Dorothy, assassinada de forma brutal pelos proprietários de uma “pátria dividida”, secular e calculadamente, em lotes, e nada aos “sans-cullotes”.

Pensem na última nação do mundo a abolir a vergonhosa escravidão – historicamente, data tão próxima! –, o último “florão” da América.

Pensem na violência onipresente na vida do cidadão comum, a cada esquina, de cada rua, de cada cidade deste país presente-ausente.

Pensem no prefeito Daniel, sofrendo as dores cruéis de uma politicagem assassina, formada por quadrilhas de homens infiéis a qualquer bom princípio moral.

Pensem nas CPIs, provando sua não-presença, porque nutrindo álibis aos que não merecem nenhuma defesa.

Pensem na covardia que matou o prefeito Toninho – aviso de nossa total não-garantia de vida.

Pensem nas doenças, nos doentes carentes, de uma nação ausente tão logo se fica doente.

Pensem nos gays (homens, mulheres, travestis e o que mais vier), nas prostitutas que, a toda hora, são humilhados, mutilados e assassinados por este Brasil afora.

Pensem na aridez das quase-vidas concentradas em meio à escassez do sertão nordestino.

Pensem nos animais que, por meio de uma ideologia importada e desencantada, a cada “Grande Rodeio”, são supliciados, sacrificados diante de uma platéia excitada, encantada.

Pensem nos asilos, no exílio dos nossos velhos desamparados.

Pensem, pensem, pensem...

Pensem no Ocidente, no Oriente e sobretudo no Médio-Oriente – dos homens e mulheres já indiferentes a tantos sofrimentos.

Pensem do paraíso-Copacabana à deriva de furiosos arrastões sem qualquer aviso-prévio.

Pensem, pensem, pensem...

Não!

Não pensem! Pois segundo um ditado latino-americano: “se queres ser feliz, não analises.”

Contudo, diante disso tudo, eu não vou parar de pensar, não! vou acusar, vou tocar o dedo na ferida...

Vou pensar, sim!

Penso no Seu Jorge (no “Zé Galinha”) - advindo de um mundo marginal; em apenas 4 anos, em território francês, obteve o reconhecimento do talento que lhe é inerente, mundialmente:

“Sangue, sangue,

sangue, sangue...

Chatterton suicidou,

Claude Coubert suicidou,

Getúlio Vargas suicidou,

Isocrates suicidou,

Nietzsche enlouqueceu,

E eu... não vou nada bem.”

Diálogo silencioso comigo mesmo: _ Gosto do Tom, do Milton, de Dom Casmurro, do Chico, da Elis... suicidou; d’Os Sertões, de Joyce, de Guimarães Rosa; da rosa da rosa, da rosa com cor e com perfume; de Homero, de Sócrates-Platão, de Dante Alighieri, de Virgínia Woolf... também suicidou.

“É isso aí...

Não, não vou parar de te olhar...”

De te vigiar,

Bandido-Brasil.

“Mark Twain suicidou,

Schumann enlouqueceu,

E eu... não vou nada bem.”

Mas eu não vou parar de te vigiar,

com Copa ou sem copa,

(aqui, sou mais Sócrates: “_Seria pior para mim estar em desacordo comigo mesmo do que com multidões inteiras.”),

vê se desempacota,

vê se toma vergonha na cara,

porque

eu não vou parar de te vigiar...

Vai com essa, Tom Zé:

“Neste Brasil-Corrupção,

pontapé bundão,

puto saco de mau-cheiro

do Acre ao Rio de Janeiro...”

Manda essa, Ana Carolina:

“Neste país de manda-chuvas,

cheio de mãos e luvas,

tem alguém se dando bem

de São Paulo a Belém.

Eu pego o meu violão de guerra

pra responder essa sujeira...”

E eu vou nessa:

_ Tome a cor dos seus mortos,

Brasil, puta-que-o-pariu!

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é inverno de 2006