[O Sonho Morre no Amanhecer]
[Tema para o poema ‘Ribada]
Onirismo de febre alta:
se o tutano sair dos meus ossos,
então, eu vou ficar assim,
uma ossada branca,
largada ao sol,
no meio da invernada.
Tombado à beira do caminho,
de um qualquer caminho
que houver neste sertão-mundo,
vou ser apenas uma aparição
aos olhos de um cavaleiro...
Gavião vai voar por cima de mim,
vai até gritar de cortar a tarde,
mas só vai achar o nada,
o urubu não terá o que debicar,
nem a formiga o que pinicar
na ossada do meu eu extinto,
caída, seca ao sol, pelo sol.
O sonho morre no amanhecer...
brancas estradas que me percorrem,
brancura sem fim de estradas de sal
que vêm da minha noite grande -
a minha vida, eu sei, nasce daí,
do nada dessa secura branca –
eu estou de pé: acredito na vida!
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[Penas do Desterro, 27 de setembro de 2009,
relido a partir de 14 de outubro de 2007]