[O Pacto do Corpo]

[Se nem eu me levo a sério...]

Cidadela desguarnecida,

a resistência acabou de falir:

freios soltos, amarras frouxas,

o corpo me leva, leva... e leva!

Quanto mais proibido,

mais a gente busca

aplacar o pulsar das veias:

o pacto com o corpo

não é mesmo um pacto;

é uma tirania deste

sobre a razão que,

cativa do seu algoz,

ensandece ao desatino —

que pacto é esse, pois?!

A bebida — quem é que não sabe —

apenas acicata mais o desejo;

um blues molhado de vinho, e — ai! —

corpos inebriados de prazer!

Culpa-se quem dá a bebida

que leva alguém ao crime —

é municiar um revólver!

Culpo-me a mim, por dar

de beber ao meu corpo?

O meu corpo quase bêbado,

já cometeu desatinos:

eu nunca aprendi a dançar,

mas no cu da madrugada,

já dei comigo dançando...

e com mulher feia! E mais:

já acordei ao lado de bruxas!

— Traições do meu corpo?!

Mas não lamento, nada, nadinha

as vezes em que o meu corpo,

me pôs nos braços cheirosos

de lindas mulheres... eu, hein?!

Ainda bem que a vida já

vai acabar — limite da loucura!

Sobrevoo-me — vejo o meu corpo

indo pelas ruas, imantado

pelos perigos da noite, buscando...

às vezes, uma fina luz de razão

vence o corpo, e me resgata!

O corpo — este espanto!

quem nega o "pacto do corpo"

[que na verdade, pacto não é]

não passa de um hipócrita:

eu, tu, ele, ela — somos humanos!

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[Penas do Desterro, 26 de setembro de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 26/09/2009
Reeditado em 10/07/2012
Código do texto: T1833644
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