ERA SÓ...

Era só ‘mais um dia’

Daqueles que passam

Sem que sua presença se note;

Um dia miúdo, frio e sengraçante

Com os gargalhos sonoros todos, de todos,

Recolhidos nos hangares de origem,

Pois que os risos, em decibéis amaros,

voam bem alto, em alto e bom som.

É assim o dia no bairro - a mesmice temperada de sempre;

Ninguém apressa o seu passo festeiro

Senão pra “voar” e pegar lotação no ponto de embarque.

Na praça do centro - lá estive - enchia-me os olhos

O riso menino de adolescentes e idosos;

Os gozos supernos das rixas amigas

De intrigas roladas no palco da vida;

Corriam infantes daqui para ali; tropeçavam no piso;

Choravam abundâncias e em instantes sorriam.

Mulatas dengosas dançavam trejeitos

Sentindo os efeitos de cobiçosos olhares;

Paravam; falavam; lambiam os beiços,

E as brancas morriam de inveja e “doçura”.

É assim o dia no bairro - a mesmice temperada de sempre,

Ninguém apressa o seu passo festeiro

Senão pra “voar” e pegar lotação no ponto de embarque.

O dia-a-dia aqui no bairro

São velhos sentados à sombra, soltando fumaça em rodelas;

Crianças sisudas a passo lépido caminham

Para não serem barradas no horário-limite

Na escola que ensina o beabá aos fedelhos;

Mocinhas esticando o peitinho pra frente

Caminham bem rente ao chão que pisam.

Honra e louvor cabe aos heróis do lixo

Que empurram carrinhos sorrindo amarelo.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 26/09/2009
Reeditado em 07/11/2009
Código do texto: T1832482
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