ERA SÓ...
Era só ‘mais um dia’
Daqueles que passam
Sem que sua presença se note;
Um dia miúdo, frio e sengraçante
Com os gargalhos sonoros todos, de todos,
Recolhidos nos hangares de origem,
Pois que os risos, em decibéis amaros,
voam bem alto, em alto e bom som.
É assim o dia no bairro - a mesmice temperada de sempre;
Ninguém apressa o seu passo festeiro
Senão pra “voar” e pegar lotação no ponto de embarque.
Na praça do centro - lá estive - enchia-me os olhos
O riso menino de adolescentes e idosos;
Os gozos supernos das rixas amigas
De intrigas roladas no palco da vida;
Corriam infantes daqui para ali; tropeçavam no piso;
Choravam abundâncias e em instantes sorriam.
Mulatas dengosas dançavam trejeitos
Sentindo os efeitos de cobiçosos olhares;
Paravam; falavam; lambiam os beiços,
E as brancas morriam de inveja e “doçura”.
É assim o dia no bairro - a mesmice temperada de sempre,
Ninguém apressa o seu passo festeiro
Senão pra “voar” e pegar lotação no ponto de embarque.
O dia-a-dia aqui no bairro
São velhos sentados à sombra, soltando fumaça em rodelas;
Crianças sisudas a passo lépido caminham
Para não serem barradas no horário-limite
Na escola que ensina o beabá aos fedelhos;
Mocinhas esticando o peitinho pra frente
Caminham bem rente ao chão que pisam.
Honra e louvor cabe aos heróis do lixo
Que empurram carrinhos sorrindo amarelo.