NASCIMENTO
Podem largar à porta
Da rua os ignorados seres
Vindos de lugares igualmente ignorados
Porque não se conhece a mão que se explora.
E sabem vistosos senhores
Comportados à vista alheia e servis
Tanto podem e se prestam à ignóbil empresa
Aqueles que se não reconhecem no espelho da vida.
Acabada a tarefa exausta e mal paga
Vai ao botequim beber
E de gole em gole
Põe à boca o líquido amargo e ardente
E não leva para casa o pão há muito escasso.
E se ao novo dia que se aproxima
Vencendo a noite dormida por desmaio
O que podem dele exigir?
Se só sabe que tem o que fazer.
E a história que não cessa seu curso
Como uma canoa desgovernada a cachoeira desce
Nada mais sobra senão lamentos e certezas vãs
E sabem os que apenas olham
Que o que se presencia no instante posto
Ficará na mente como placa que inaugura nova obra.
Dos jardins outrora e não esquecido tempo
Jazem somente ruínas
E como do Egito fortes pirâmides
A humanidade herdou
Deve-se ao jardim voltar
E remexendo a terra feito trator imponente
E lá deixar a semente que se tornará flor.
Assim se garante não somente a planta
Mas a abelha que virá
E o mel
Doce e alimentador
Será dado à criança que crescerá.
E queiram os deuses olímpicos
De Zeus a Baco
Sem esquecer Hermes e sua lira
E a melodia que dela sair
Um novo Homem surgirá.