Decretar o fim da miséria
A miséria não precisa de muito
A miséria não precisa de pouco
A miséria precisa é não existir
Não aviltar os olhos
Precisa arregalar os olhos humanos
Que perderam a humanidade
Que não enxergam a efemeridade
De seus bens findáveis
Não precisam existir
Incontáveis miseráveis
Milhões de bocas famintas
Ávidas de pão, de paz
Ávidas de amor próprio
Ávidas por dignidade
Não é digno o humano
Que se cala
Que emudece
Diante desse flagelo
Diante de tanta atrocidade
Diante da transformação de seres iguais
Em estáticas estatísticas
Alvejadas pela falta de compromisso
Desprezadas em sua seriedade
Enquanto uns tantos
Poderiam dar um basta
No quadro caótico
Nessa cruel realidade:
A de ter que conviver dia-a-dia
Com a mais triste e cruel
De todas as humilhações:
A de não serem percebidos
Como seres humanos, que são
Sem pátria
Sem terra
Sem nação,
A de nem viver, nem morrer como cidadão