Rito de Passagem
Conquistas vazias em um universo per’feito,
Extraídas de lamentações, jóias de vidro...
Vitórias em reinos povoados pela imaginação,
Sucesso insignificante num mundo de papel.
Hoje, o poço é seco de sonhos
E a terra côncava urge algo a preenchê-la.
O rito de passagem, alimenta-a, etapa a etapa.
Com algo mais grosso que água...
Vermelho, como lágrimas do último a bebê-lo.
As macias e delicadas ferramentas
Que verteram do buraco o liquor onírico
Tornaram-se afiadas e ferrosas.
Talhando das mãos trêmulas,
Nenhuma gota onerosa da vastidão estéril,
Só luz rubra em carne.
Logo eles virão a contemplar o sabor encarnado.
A vestir-se do couro dos derrotados
Exigindo milagres do tempo passado.
O poço é o receptáculo
O toldo do espetáculo
O foco do oráculo
Ainda embebido no odor ocre escarlate
Submirjo do ventre freático
Recito o rito iniciático
Daquele que do sangue crê arte:
Conjuro demônio, sombra, egum!
Satã, Cthulhu, Exu!
E em giros assimétricos o jogo
Muda de regra a gosto
E com que aprendi do mundo
Do papel ilusório imundo
Mostro pouca diferença,
aqui e lá cabe a sentença:
“Seja feita vossa vontade”