Eu sou marcos de minha existência
Vestígios do que deixo em tantos momentos
Datados no tempo e soltos no espaço
Marcados em mim de todas as formas
Escritos em minha pele em cada parte do corpo
Eu sou marcos de uma certa essência
De vida que resta quando me penso morto
As ruas de meu bairro de mim estão repletas
Em cada lugar um estilhaço meu
Testemunha que vivi e que ainda aqui estou
Tão vivo quanto posso, tão vivo como sou
E que decreta que daqui só vou sair
Com um gesto violento do destino
Em cada lugar me assombra uma lembrança
E eu sei a história inteira
Como um círculo fechado em si mesmo
Mas nunca posso olhar de fora
Porque dentro dela tenho certeza
De que ela está dentro de mim
Como o que é história inteira
A doer-me cada pedaço do corpo
E se eu estiver morto, da alma
Onde reside essa luta infame
Por um pouco ao menos de esquecimento
Esforço vão quando todos os lugares
Estão sempre a me cobrar o que sou
E o que sou são marcos na convicção
De que serei nada
Enquanto todas as marcas persistirem
Como cicatrizes de feridas ainda tão recentes
Ou como sombras de tudo o que fui
Porque não estou nos lugares todos
Mas todos os lugares estão em mim
Aonde quer que eu vá
Não tenho mais como fugir
E o que quer que eu sinta
Vai ser de um único modo de sentir
Meu destino não me pertence
Muito menos eu a ele
Mas dormimos juntos
Todas as noites mal dormidas
E no despertar ainda juntos estaremos
Por sermos assim gêmeos de um mesmo desespero
Então eu ando a esmo as ruas do bairro
A revisitar todas as casas de todos os tempos
Onde antes havia gente viva
Sem saber porque agora estão mortas
Em todas as luzes apagadas
E em todas as fechadas portas
Em que bato sem dar por mim
Que ninguém atende, que ninguém ouve
E como sempre nem vão poder me ouvir
Por estarem vivos e eu morto
Sem dar por mim que todos os marcos
Apagaram-se aos poucos na memória
Eu sou marcos de uma história tão mal contada
E de tão mal vivida acabada
Tão insuportavelmente acabada
Sou marcos de uma ilusão tão bela
Que me fez crer que o nada era tudo
Quando na verdade tudo era nada
Minha alma está em algum lugar
Meu coração está em algum lugar
Minha vida está em algum lugar
E cada sonho meu está em algum lugar
Mas nenhum lugar está de fato em mim
E eu mesmo não estou em lugar algum
E essa busca inútil por mim mesmo
Os meus rastros, os meus restos
Meus despojos de esquecimento
Essa busca me leva a todos os lugares
Recolhendo restos perdidos
Seguindo rastros esquecidos
Esquecendo rostos queridos
Fitando luzes apagadas
Matando paixões cansadas
Só os rostos pelo menos
Não queria esquecer na caminhada
Nessa madrugada fria e traiçoeira
Silenciosa que nada sabe de mim
Um estranho que passa
E rápido se vai por não poder ficar
Porque os marcos de cada lugar
Não mostram sequer o meu rosto
Em nenhum estilhaço de velhos espelhos
Nem no calar de cada palavra
E minhas palavras nem são marcos
Nem podem parir ansiada poesia
Sou um fantasma que anda
Essa madrugada traiçoeira e fria
E se não fosse ao menos isso
O que seria?
Assim são as coisas e não sei como as coisas são
As coisas são só vazias de imensidão
As coisas estão repletas de solidão
As coisas são marcos do que são
E eu não sou o que cada coisa é
Sou apenas o que as coisas não são
E não ser o que se é
É ser o que não se é
Não sou os passos, sou o chão
Não sou os lugares, sou os vestígios
Não sou o que sinto, mas o que não sei que sinto
Não sou o que canto, mas o que o canto em mim não canta
Não sou o que penso, mas o que não penso que penso que sou
Não sou o que quero, mas o que o querer em mim queria que eu quisesse
Não sou o que digo e sim o que não diria se dissesse que digo
Não sou o que calo
Sou o que minto
Não sou o amanhã, mas o que o amanhã traria se amanhecesse
Não sou os marcos de minha existência
Mas apenas a existência por eles marcada
Sou o nada que era tudo
Sou o tudo que era nada
Vestígios do que deixo em tantos momentos
Datados no tempo e soltos no espaço
Marcados em mim de todas as formas
Escritos em minha pele em cada parte do corpo
Eu sou marcos de uma certa essência
De vida que resta quando me penso morto
As ruas de meu bairro de mim estão repletas
Em cada lugar um estilhaço meu
Testemunha que vivi e que ainda aqui estou
Tão vivo quanto posso, tão vivo como sou
E que decreta que daqui só vou sair
Com um gesto violento do destino
Em cada lugar me assombra uma lembrança
E eu sei a história inteira
Como um círculo fechado em si mesmo
Mas nunca posso olhar de fora
Porque dentro dela tenho certeza
De que ela está dentro de mim
Como o que é história inteira
A doer-me cada pedaço do corpo
E se eu estiver morto, da alma
Onde reside essa luta infame
Por um pouco ao menos de esquecimento
Esforço vão quando todos os lugares
Estão sempre a me cobrar o que sou
E o que sou são marcos na convicção
De que serei nada
Enquanto todas as marcas persistirem
Como cicatrizes de feridas ainda tão recentes
Ou como sombras de tudo o que fui
Porque não estou nos lugares todos
Mas todos os lugares estão em mim
Aonde quer que eu vá
Não tenho mais como fugir
E o que quer que eu sinta
Vai ser de um único modo de sentir
Meu destino não me pertence
Muito menos eu a ele
Mas dormimos juntos
Todas as noites mal dormidas
E no despertar ainda juntos estaremos
Por sermos assim gêmeos de um mesmo desespero
Então eu ando a esmo as ruas do bairro
A revisitar todas as casas de todos os tempos
Onde antes havia gente viva
Sem saber porque agora estão mortas
Em todas as luzes apagadas
E em todas as fechadas portas
Em que bato sem dar por mim
Que ninguém atende, que ninguém ouve
E como sempre nem vão poder me ouvir
Por estarem vivos e eu morto
Sem dar por mim que todos os marcos
Apagaram-se aos poucos na memória
Eu sou marcos de uma história tão mal contada
E de tão mal vivida acabada
Tão insuportavelmente acabada
Sou marcos de uma ilusão tão bela
Que me fez crer que o nada era tudo
Quando na verdade tudo era nada
Minha alma está em algum lugar
Meu coração está em algum lugar
Minha vida está em algum lugar
E cada sonho meu está em algum lugar
Mas nenhum lugar está de fato em mim
E eu mesmo não estou em lugar algum
E essa busca inútil por mim mesmo
Os meus rastros, os meus restos
Meus despojos de esquecimento
Essa busca me leva a todos os lugares
Recolhendo restos perdidos
Seguindo rastros esquecidos
Esquecendo rostos queridos
Fitando luzes apagadas
Matando paixões cansadas
Só os rostos pelo menos
Não queria esquecer na caminhada
Nessa madrugada fria e traiçoeira
Silenciosa que nada sabe de mim
Um estranho que passa
E rápido se vai por não poder ficar
Porque os marcos de cada lugar
Não mostram sequer o meu rosto
Em nenhum estilhaço de velhos espelhos
Nem no calar de cada palavra
E minhas palavras nem são marcos
Nem podem parir ansiada poesia
Sou um fantasma que anda
Essa madrugada traiçoeira e fria
E se não fosse ao menos isso
O que seria?
Assim são as coisas e não sei como as coisas são
As coisas são só vazias de imensidão
As coisas estão repletas de solidão
As coisas são marcos do que são
E eu não sou o que cada coisa é
Sou apenas o que as coisas não são
E não ser o que se é
É ser o que não se é
Não sou os passos, sou o chão
Não sou os lugares, sou os vestígios
Não sou o que sinto, mas o que não sei que sinto
Não sou o que canto, mas o que o canto em mim não canta
Não sou o que penso, mas o que não penso que penso que sou
Não sou o que quero, mas o que o querer em mim queria que eu quisesse
Não sou o que digo e sim o que não diria se dissesse que digo
Não sou o que calo
Sou o que minto
Não sou o amanhã, mas o que o amanhã traria se amanhecesse
Não sou os marcos de minha existência
Mas apenas a existência por eles marcada
Sou o nada que era tudo
Sou o tudo que era nada