Um encontro poetizante a caminho da Primavera

Caminhava, distraidamente, numa dessas manhãs de fim de inverno, entre canteiros de prosas diversas e versos prosaicos, quando me deparo, de repente, com o poetinha sereno, placidamente assentado num velho tronco de árvore tombada.

- Saudações matinais, querido mestre!

- Saudações meu jovem poeta! O que o traz tão cedinho ao recanto da flor pequenina?

- Ah, meu precioso mentor – digo-lhe respeitosamente – a primavera, a primavera... Ela se aproxima e me deu uma vontade imensa de recebê-la condignamente. Queria escrever-lhe uma saudação, mas precisava de uma idéia nova. Conhece algum segredo dela?

- Da primavera? Ah, conheço sim. Estava pensando mesmo em lhe contar, um dia. Sente-se aqui do meu lado.

Ajeitei-me como pude no tosco banquinho e calei-me à espera. Após um breve silêncio, com jeito de milênios, ele se pronunciou:

- A primavera, meu jovem, é a única estação feminina... A única!

Revi, num relance, cada estação: O verão! O outono! O inverno!

- Ah, a primavera!!!

- Isso mesmo, meu curioso perguntador, é ELA!!! Não quero dizer que não haja nada feminino nas demais estações: o esplendor do verão, a sutileza do outono, o aconchego do inverno, são singelas homenagens delas à mulher. Mas a primavera, gentil rapaz, tão esplendidamente bela, radiosamente formosa e sabiamente perfumada, é a própria estação mulher. Passarinhos, borboletas, abelhas e joaninhas, deleitam-se com a chegada das folhas renovadas, das flores delicadas, do aroma inebriante no ar. Quem poderia deixar de celebrá-la?

Fechei meus olhos, agradecido ao poetinha sereno, e agradeci, comovido, ao Criador da primavera.

Wolô, fins de inverno de 2009

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