Como te amo
Não te amo como amo a chegada
da primavera. Eu te amo mesmo de
forma obscura.Como se ama a criança
que não nasceu e que leva em si
o brilho da vida que não teve
ou os amores que jamais a matarão de novo.
Eu te amo como a flor
que pisada foi sob o pé do órfão recente que corre
sem saber para onde ir, nem onde vai
sua mãe querida...
e leva a flor pisada
toda a dor que abate o coração assassino...
nem sei se te amo, como amam suas mulheres
que em sua cama te amaram
e em bares te odiaram
e agora não te vêem dormindo em minha cama
como se dali nunca tiveras saído...
eu te amo obliquamente
de forma que não me sufoca esse amor
que é como uma coisa que não se sente
ou se deseja, ou se devora e se alimenta de si mesmo...
é assim,
como a planta que figura o cubismo de Picasso
e se limita a nunca mais morrer...
eu te amo como o equilíbrio vacilante
dos primeiros passos da criança
que tropeça em seu primeiro vestido...
eu te amo na palavra
no verbo
na canção
no sonho...
e sem você não conheço o resto dessa minha vida