Conversa Informal

"...Ano Novo. Vida nova. Novas esperanças... Será mesmo que as contagiantes

palavras tem esse poder de nos fazer acreditar que é possivel transmutar as

coisas que existiam de uma forma, até ontem, por outras, de formas

diferentes a partir de hoje?!... Sentada à mesa do café, de uma manhã igual

às outras, olho para esse dia de janeiro luminoso. O vento frio dança

incançável o seu rítmo desenfreado, fazendo com que as árvores se tornem uma

massa homogênea e esfiapada... Vejo animais pastando limitados e ociosos no

grande tapete verde da natureza. Minhas plantas à espera da água da chuva

prometida pelo semblante fechado das nuvens... O bem-te-vi troca diálogos

com outros pássaros, num canto distinto e personal, enquanto vejo a luz do

sol bater enviezada na mesa, em diagonal, refletindo cores, luzes e

formas... Penso que existo e que valho a pena só por ter nervos ópticos e

registrar assim o que eles percebem... Tolice ou não, se eu pudesse,

eternizaria com palavras, tudo aquilo que capta o meu cérebro sempre em

ebulição... Totalmente imersa nos pensamentos, escrevendo muito e tentanto

achar o centro... o significado... Talvez isso ajudasse a sintetizar minhas

idéias numa filosofia só minha...

E sem perder o fio da meada, me pergunto se o Ano novo mudará o rumo dos

meus passos; esclarecerá minhas dúvidas; curará minhas mágoas; pagará minhas

dívidas, realizará os meus sonhos!...E aí me dirão:"quanto pessimismo!" E eu

responderei que sim, há alegria, realização, esperança e companheirismo -

mas a solidão da alma, com toda a sua verdade esplendorosa, em sua

autoconsciência medonha, é feia e predominante... Me perdoem aqueles que

acreditam apenas nas palavras e ficam esperando em suas inércias que tudo

se modifique num piscar de olhos, num acender de luzes, numa virada de

ano...

As coisas continuam iguais. É só olhar ao redor. O mundo continua brigando,

as tragédias acontecendo, as dores continuam doendo e a paz tão desejada

incubada ainda na maioria dos corações..."