Tormentas!
Silêncio inquietante...mãos nervosas buscavam nervos torcidos pela fúria, pela dor incontida. Os dedos amarelados pela nicotina, cinzeiro abarrotado de bitucas pintadas de vermelho vivo..sangue e batom de lábios antes tão beijados e agora trêmulos no desespero.
Não havia mais o que pensar. O cérebro em desalinho maquinou os passos do último ato. Amanhecia lá fora. Primeiros raios de sol insistiam em atravessar as cortinas da sala escura e esfumaçada. Clima pesado, tenso, perturbado.
Marina assustou-se com o barulho do celular. Muniu-se de coragem e atendeu...Alô, você? Como tem coragem de ligar-me? Onde? Não, não irei. Espero-lhe aqui...Mais rápido possível!
Seus olhos felinos chispavam ódio, sua boca espumava e seu corpo contorcia-se no prazer da vingança.
Mais um cigarro, uma dose de wisky e lágrimas desceram em forma de cascata. Não, não ia desistir agora e nem fraquejar. Depois de tudo que ele fez?
Jogou-se no sofá antes tão amassado pelos prazeres e num minuto sua vida desfilou em rápidos flashes. Encontros furtivos, impensados, promessas vãs.
Era tão menina, ainda...Foi seu primeiro amor! acreditou em todas suas palavras, perdeu sua identidade julgando ser assim o caminho do amor. Dez anos se passaram e a menina agora ficou esquecida num canto da memória. Já não era mais objeto de seu prazer! Canalha, você vai pagar caro pelo que fez!
Apalpou mais uma vez a bolsa, certificou-se que a arma ali estava quando a campainha tocou. Num salto só abriu a porta com a arma em punho e o estampido do tiro foi quebrado pelo grito ensandecido de Marina: Mãeeeeeeeeee! que fiz, mãeeeeeee!
Logo atrás, um homem ajeita a gravata, joga-lhe um beijo através do sorriso sarcástico e sai a passos lentos...