ESTRELA TACITURNA

Dorme o amor nesta moldura de espantos. Canta o sonho a sonata dos dias. A noite alada é uma estrela de cordas. Cochicha o coração andejo. Olhos fechados, a lágrima é o beijo sobre a saudade.

Nos trilhos, aos sobressaltos, o coração inconfesso. O todo me percorre na humana dimensão: saudade, flor, esperas. O samba solfeja minutos e indiferenças. O sangue nervoso pulsa suor e turvas lembranças.

Por mais que o mundo fuja dançando, ainda moram a sono solto mitos e ausências. O corpo roto de metáforas desenha boca e palavra.

Prata e música, o arpejo da noite é a ronda dos que sabem da vida, entregues ao mistério dela. E eu, cego de vivências, ávido de tempo e esperanças, reitero a doma do coração indomável.

Tudo o que dói no corpo é nada, e o esqueleto feito música sobe à estrela taciturna. Somente é notívago aquele que soturna os desejos de posse.

– Abre-te, boca desejosa! Ainda há incontidos sonhos nos quadris e seus sortilégios.

Em qualquer idioma, no ar que respiramos, há sempre a esperança de ser feliz. E o amor é uma estrela de costas, fatigada.

– Do LIVRO DOS AFETOS, 2005/2009.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/1816433