METAMORFOSE


O tempo que passa não enxuga minhas dúvidas, como cano perfurado por engano, mais água traz.
Penso entender melhor as dúvidas da infância,
Mas meus filhos enfrentam outras verdades,
Porque do passado ficou apenas minha memória.
 
Da certeza enxergo o vazio que alimenta o dia, minhas impressões são como piada de botequim, um riso frouxo inconseqüente de quem as ouviu, mas meus enganos não passam em vão nesta terra.
São certezas que outrora meu pecado ensinou.
Ou vivo o que acredito e busco minha fé,
ou percorro outro caminho que jamais sonhei.
 
Minha realidade não foge ao comum dos homens, essa responsabilidade que ninguém pediu ou precisa, pois os honestos a terra recebeu, cobriu e comeu.
Então eu faço uma poesia, pequenos versos,
e sonho ser um poeta que esculpiu a verdade,
pois que o vento levou, como poeira, o chão sob meus pés.
 
Tal e qual a filosofia, por que eu duvido?
Qual minha parte nesse mundo que o tempo consome?
Tão ínfima minha jornada diante do tudo,
como se fosse tudo minha história de vida.
 
Ser poeta assopra minhas feridas, eu crio uma alma, entalho outro rosto, avisto outros amores, outras vidas, driblo a morte eternizando meu pensamento.
Faço poesia porque olho nos olhos do cego,
mas não enxergo o que ele vê com o coração,
então invento uma realidade que só vivem em mim, e mais, crio realidades que só existem nos cegos por amor.
Nem eu mesmo sei a emoção que planto,
mas entendo que as sementes são honestas,
colhidas na dor da partida, de quem sonhou apenas viver um amor.
 
Dito isso deito e durmo como se fosse criança,
assim aceito melhor minha herança, essa que não recebi como graça, mas que construí com erros e acertos do dia a dia.
Valha-me todos os santos da poesia!