Uma dor?

É como se nunca tivesse havido uma dor.

É como se nunca tivesse tocado na tua boca com a minha levemente, para não estragar tamanho primor. Tinha o hábito de deitar na tua cama, apenas para observar as pequenas particularidades da tua face.

Finalmente tinha encontrado a cara-metade de que tanto diziam, o namorado por quem tanto desejava. Mas essa metade um dia desviou-se com a ventania, deixando a minha face desfigurada, face que foi camuflada por uma máscara de plástico ao longo de um tempo.

Hoje, finalmente, os pedaços de pele e carne estão a desenvolver-se e a dar forma à minha face. O coração prega partidas, daquelas bem alienadas que incita o crescimento da metade da minha face, é como se fosse o medicamento para esta dor.

Falta apenas um bocadinho para recobrar o meu "belo" rosto.

Da próxima vez que algum príncipe encantado vier se aproximar de mim, nunca mais deixarei que ele desmanche metade da minha face para guardar, nunca mais farei intenção de dar completamente a minha face para alguém. O universo rege-se demasiado pelo exterior e nem pensar em permanecer desfigurada de novo.

Hoje encaro como se nunca tivesse existido uma dor, seja exterior ou interior. Sinto-me bem. O tique-taque do relógio já não dói como dantes, o correr do meu sangue encontra-se regularizado e o tempo passa, até mesmo para mim!

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 10/09/2009
Código do texto: T1803272
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