FEITIÇO

O sol adormece na vidraça, tinge de louro as paredes e espalha um sono leve além dos limites de inverno, fruto da primavera já, dos seus raios pelo chão de encontro ao odor dos corpos, eclipsando suaves tons lilases, capazes de fazer entardecer.

Os espelhos, assustados como loucos, brilham em olhos de sábio que veem nos caminhos que se enfloram, cheirosos os sentidos das palavras dos poetas, e enxergam o fundo de um lago cristalino, nesses pensares mesmo a refletirem o azul de um mar ardente de paixão, a evaporar como perfume.

Mas é já no escurecer que do sombrio do tempo a chuva aparece, trazida por rajadas crispadas, que zombando invadem o espelho d´água, e da janela a sua imagem refletida, mancha de opaco o céu. Além do mais, nas almofadas há corpos distorcidos em que se excitam os movimentos a rolar de galopes açoitados noite afora, inflamados defronte ao inconsciente crepitar do fogo, vidas que ecoam do feitiço.

Miguel-

Miguel Eduardo Gonçalves
Enviado por Miguel Eduardo Gonçalves em 10/09/2009
Código do texto: T1803181
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