A FONTE SECOU?

É exatamente assim que me sinto...

Diante de uma fonte seca, sem vida, sem cor, sem luz...sem água.

É exatamente este o sentimento de não-vida, de ausência, da presença do vazio...

Aqui dentro um silêncio enorme tomou conta de mim. As palavras não vêm, os textos não acontecem, o livro não nasce...

Tenho apenas alguns dias...tenho medo do teclado, tenho pavor da caneta...o caderno está em branco na minha frente. Ele pede, grita por palavras, está ávido por meus sentimentos. E o que eu tenho? A ausência de todos os sentidos. Não sinto cheiro no vento nem na chuva, não sinto gosto de nada, não ouço vozes, não tenho inspiração...

Preciso criar.

Me prometi.

Assumi comigo mesma a responsabilidade de escrever...

As palavras não vêm...elas não acontecem.

Fico perplexa olhando a fonte seca, mas não ouso me mexer, não arrisco um passo, nem volto atrás para olhar de longe, nem me aproximo com a intensão de abrir essa bica oxidada-velha-emperrada.

E me pergunto baixinho: por que sempre faço isto comigo? Por que me negligencio? Por que me boicoto? Por que tenho medo do sucesso? Por que fujo de mim mesma?

Porra!

Por que não ir lá e abrir a torneira? Por que não tentar? Por que não esfolar a mão até que a água caia e jorre da fonte palavras sentidas e gritadas aqui dentro deste silêncio cheio de tudo?

É exatamente isto que estou experimentando aqui...

É exatamente isto que percebo em cada palavra nascida agora...

É exatamente o que vivo neste momento de mãos e coração arrebentados...

É exatamente esta tentativa que me impulsiona...

É exatamente isto que é escrever...

É exatamente começar, ir em frente e não parar...

Esta fonte NÃO SECA!

Chama-se querer.

Chama-se DOM DIVINO.

Chama-se EU INUNDADA DE MIM MESMA.

Agora...

T

TR

TRA

TRAN

TRANS

TRANSB

TRANSBO

TRANSBOR

TRANSBORD

TRANSBORDA

TRANSBORDAN

TRANSBORDAND

TRANSBORDANDO