Meus Verdes Anos

Situações inesperadas, às vezes, trazem algo interessante. Em um certo dia de chuva, nas divagações da História, uma Esperança pousou no meu peito. Pois é, aquele bichinho que, segundo o Aurélio, é definido como um " inseto ortóptero, tetigonióideo, de antena setácea, geralmente mais longa que o corpo, pernas espinhosas, e ovipositor ensiforme. Tem, de ordinário, cor verde". O fato inusitado trouxe-me lembranças da infância. Possuo uma tendência congênita a oscilar entre os 4 e os 80 anos. Mudo de idades com a sutileza de uma bater de asas e a dureza de uma rocha ígnea. Sintoma de esquizofrenia? Bom consultar um médico. Independentemente dos distúrbios psicóticos, aquela recordação me fez bem. Não sei ao certo o porquê. Talvez por eu ser visceralmente nostálgica. Ou por ser historiadora - gosto de revirar o passado e, de vez em quando, despertar os mortos.

Num átimo, lá estava eu, à sombra da flor dos meus 5 anos, do abacateiro e dos cachos de uva. Na corrida desenfreada pelo quintal, vi aquele ser curioso e reluzente em cima do muro. Tão frágil... fragilidade essa que, naquela época, percebia apenas no Outro - eu, por minha vez, estava longe de ser assim. No meu espelho viciado, era forte, grande, imensa - não cabia em mim. E o mundo era um quintal verde de flores de laranjeiras e de maracujá...

Subitamente, tive vontade de dançar com a Esperança.

"Dança, Esperança!"

E ela se balançava sobre as perninhas delicadas.

"Dança de novo, Esperança!"

E, mais uma vez, ela remexia-se num gesto que se transformava num bailar aos meus olhos pueris.

Com esses mesmos olhos, voltei-me para a minha nova Esperança - aquela das minhas flores, a mesma das minhas cores - e ela dançava novamente.

Nos meus dias.

Nas minha dores.