Nem Sou

Sou

Metade esfera, metade balão

Razão febril, acreditas ou não?

Esquizofrênico, gripado

Ode a mim, despedaçado.

Sou

Ingênuo, canto mentiras

Sopro displicente ao vento

Três ou quanto versões

De poesia, de prosa,

De nada.

Sou

Tantã, desafino logo

No pinho ou no seco banjo

Movimento os dedos, as mãos.

No solavanco, prezo tudo.

Sou

Literal, garanto os verbos

Cobiça e ganância, bem que quero

Transitório, caminho da chuva

Equinócios de rentes rabiscos

À cerca, à linha, devoradores.

Sou

Poeira, espessa fuligem

Coloco na mesa

A raça e a destreza de miúdas letras

Bailando valsa, esquivando-se

Meu guia é o bridão de ouro

Dou volta, cisterna, esgoto.

Sou

Passageiro novato

Dúctil, abissal

Conveniências me assanham

Longe das Babilônias

Digo: não vou!

Sou

Barbatana que tange

Marejo os olhos clementes

Quando me acusam

A réu do pecado

Não me oponho

Sei que sou!

Vou

Errando na alvorada

Emoção à flor impele

Meu forte e vasto grão

Que germina, emerge e segue

Quando de muro me acham

Vulnerável e roto

Cerro o laço, saro e digo:

Não sou! Não sou! Não sou!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 20/06/2006
Reeditado em 20/06/2006
Código do texto: T179323
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