[O Futuro Arrancou os meus Olhos]
Se "eu sou eu e as minhas circunstâncias",
então do que mais vivo senão das contingências?
Sim, eu escrevo nos ímpetos,
formato minhas penas em palavras,
tenho grande prazer de vê-las surgir,
desencaixadas de algum lugar da mente,
trêmulas, indecisas, mas carregadas
de sentimentos, e loucas, loucas a criar
sentidos que nem eu calculava existir...
Dou largas às minhas sensações,
escrevo sem compromisso, escrevo
para me divertir, pois não tenho mais
os quintais das descobertas do mundo!
Por isto [e mais aquilo] é que eu não sou poeta,
sou um reles contador de meias-mentiras,
narrativas de cá e de lá desses vértices,
dessas quinas meio-quebradas de muros velhos...
Escrevo, pois amanhã estarei morto
e tudo se perderá para sempre;
a vida é o só o prazer do clic solerte!
A posteridade, ora a posteridade...
O Futuro já terá me arrancado os olhos,
e o meu nome já terá sido riscado!
Verdade de pernas curtas:
somos, na vida uns dos outros,
contingências, circunstâncias fortuitas!
Ora, vamos, é só dormir que passa, nem rastro fica!
Afinal, nós somos o centro do mundo —
que nos comprem assim — não faremos por menos!
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[Penas do Desterro, 4 de setembro de 2009]