[Estação da Contingência]

A estreita derivação à direita

tira-me da estrada principal;

sou retirado pela contingência

de eu trabalhar naquele lugar ali,

à margem da estrada do litoral.

Não queria ficar, mas fico,

a minha liberdade é tolhida

por contingências assim...

Sou apanhado nas laçadas

que eu mesmo preparei,

tenho asas, porém, molhadas!

Só um tolo ignora os fatos:

a gente se mente, negaceia,

foge até mesmo do amor,

sabendo da perda do jogo,

sabendo que a vida... mata;

mata sem dó nem piedade!

A estrada passa ao lado

da liberdade que eu não tenho...

ou antes — finjo não ter?!

A estrada passa... sim, passa

o mel da possibilidade nos meus lábios,

e no entanto, eu não vou; agora não;

mas amanhã, talvez eu vá...

Cá fico, nesta estação da contingência,

sim, é uma es-, esta-, uma estaÇÃO,

lugar de a gente assistir aos acenos

das asas, dos lenços brancos esvoaçantes

de quem passa e vai para o litoral

contemplar a evidência de que a Terra

é redonda sim, e é grande, grande...

[... como sempre, eu não disse nada!]

[Penas do Desterro, 4 de setembro de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 04/09/2009
Reeditado em 17/01/2012
Código do texto: T1792018
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