[Estação da Contingência]
A estreita derivação à direita
tira-me da estrada principal;
sou retirado pela contingência
de eu trabalhar naquele lugar ali,
à margem da estrada do litoral.
Não queria ficar, mas fico,
a minha liberdade é tolhida
por contingências assim...
Sou apanhado nas laçadas
que eu mesmo preparei,
tenho asas, porém, molhadas!
Só um tolo ignora os fatos:
a gente se mente, negaceia,
foge até mesmo do amor,
sabendo da perda do jogo,
sabendo que a vida... mata;
mata sem dó nem piedade!
A estrada passa ao lado
da liberdade que eu não tenho...
ou antes — finjo não ter?!
A estrada passa... sim, passa
o mel da possibilidade nos meus lábios,
e no entanto, eu não vou; agora não;
mas amanhã, talvez eu vá...
Cá fico, nesta estação da contingência,
sim, é uma es-, esta-, uma estaÇÃO,
lugar de a gente assistir aos acenos
das asas, dos lenços brancos esvoaçantes
de quem passa e vai para o litoral
contemplar a evidência de que a Terra
é redonda sim, e é grande, grande...
[... como sempre, eu não disse nada!]
[Penas do Desterro, 4 de setembro de 2009]