Madrugada
Cinco e meia da manhã. Janeiro. A chuva cai lá fora incessante e como por um milagre estamos todos acordados. Minha mãe oferece comida ao seu cãozinho, o alarme de celular do meu irmão dispara e eu ouço Ana Carolina cantando Eu te amo.
São sinais deste novo ano que com suas águas vai lavando toda a sujeira que ficou do passado. As festas se acabaram mas o cheiro da comida ainda se encontra no ar.
Nos lixos e lixeiras, as embalagens fazem uma nova árvore com seus penduricalhos, a lata de Natal. Nas casas os meninos brincam com outros brinquedos, esquecendo-se já daquele que ganharam há menos de dez dias.
Nas fábricas e escritórios a vida vai retomando o seu ritmo, mas não todo, pois existe um Carnaval frenético pedindo licença. Então vão todos para as janelas para ver, sentir e observar, literalmente, a banda passar.
Nas nossas vidas há uma ausência de notícias, também pudera, a essa hora! Não posso chamar, nem ligar sem causar algum transtorno. Só posso esperar... esperar... até que a cidade amanheça.
Acho que vi uns três DVD´s nesta madrugada e em nenhum deles tive sono, vi do começo ao fim e só parei por pura preguiça de ter de me levantar e achar um outro para assistir.
Fico me perguntando por que é que todo início tem essa malemolência insuportável, essa vontade de achar que podemos optar por algum caminho que não aquele já trilhado?
Penso que falta coragem para jogar tudo para o alto e gritar em forte tom “eu não quero saber mais disso!!!”, com todas as sílabas e letras.
Mas, quando espio pela janela, vejo a vida tocando uma serenata, um noturno de Chopin e me desconcerto. A chuva vai caindo e pingos caem na minha cabeça. Olho tudo. Sorrio e fecho a janela. Volto para a minha cama e com o controle remoto ligo um som MP3. São 170 músicas só neste CD, vai tocar a manhã e a tarde toda talvez. E eu vou ficar ouvindo e cantando... assoviando baixinho... tentando dormir... sonhando acordado... fazendo planos... até adormecer de verdade.
Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).
Cinco e meia da manhã. Janeiro. A chuva cai lá fora incessante e como por um milagre estamos todos acordados. Minha mãe oferece comida ao seu cãozinho, o alarme de celular do meu irmão dispara e eu ouço Ana Carolina cantando Eu te amo.
São sinais deste novo ano que com suas águas vai lavando toda a sujeira que ficou do passado. As festas se acabaram mas o cheiro da comida ainda se encontra no ar.
Nos lixos e lixeiras, as embalagens fazem uma nova árvore com seus penduricalhos, a lata de Natal. Nas casas os meninos brincam com outros brinquedos, esquecendo-se já daquele que ganharam há menos de dez dias.
Nas fábricas e escritórios a vida vai retomando o seu ritmo, mas não todo, pois existe um Carnaval frenético pedindo licença. Então vão todos para as janelas para ver, sentir e observar, literalmente, a banda passar.
Nas nossas vidas há uma ausência de notícias, também pudera, a essa hora! Não posso chamar, nem ligar sem causar algum transtorno. Só posso esperar... esperar... até que a cidade amanheça.
Acho que vi uns três DVD´s nesta madrugada e em nenhum deles tive sono, vi do começo ao fim e só parei por pura preguiça de ter de me levantar e achar um outro para assistir.
Fico me perguntando por que é que todo início tem essa malemolência insuportável, essa vontade de achar que podemos optar por algum caminho que não aquele já trilhado?
Penso que falta coragem para jogar tudo para o alto e gritar em forte tom “eu não quero saber mais disso!!!”, com todas as sílabas e letras.
Mas, quando espio pela janela, vejo a vida tocando uma serenata, um noturno de Chopin e me desconcerto. A chuva vai caindo e pingos caem na minha cabeça. Olho tudo. Sorrio e fecho a janela. Volto para a minha cama e com o controle remoto ligo um som MP3. São 170 músicas só neste CD, vai tocar a manhã e a tarde toda talvez. E eu vou ficar ouvindo e cantando... assoviando baixinho... tentando dormir... sonhando acordado... fazendo planos... até adormecer de verdade.
Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).