Desafios

Sempre me pergunto as mesmas coisas e continuo a não obter respostas. Acho que faço as perguntas erradas. Mas quais são as certas?
Olho para esta sala agora vazia e penso na vida. Tenho 38 anos, mil sonhos a viver e pouca coragem para enfrentar a vida. Fico esperando uma atitude que sei que nunca chegará. Eu acho que bloqueio a vida.
Mas não somos todos assim?
Todos nós seguimos um padrão que todos esperam de nós. Nunca avançamos o sinal, nem magoamos a quem amamos. É muito mais fácil nos magoar a nós mesmos.
E assim tem sido há muito tempo e acredito que assim será por toda uma eternidade. O homem acredita na imortalidade dos atos e eles são mortais. Supermortais.
Por isso as perguntas erradas.
Não quero saber o que o mundo espera de mim. Quero é saber e fazer valer o que eu espero do mundo. E o que eu espero?? Nem ao menos sei.
Achava que uma rede, um luar e um violão eram o ideal. Hoje descubro que não, que não quero, não. Não!
Se ao menos houvesse algum sim, eu estaria mais confiante. Mas o sim é para aqueles que se arriscam. Eu não me arrisco. Eu vivo a vida certinha sem me desviar. Os atalhos que tomo me levam de volta ao mesmo lugar. Sou o que sou.
Talvez, quando um dia, envelhecer mais um pouquinho, eu compreenda. Dizem que envelhecer é tornar-se sábio, não é mesmo? Então vou querer ter longas barbas brancas e muita sabedoria.
E esta dádiva vou guardar só para mim.
Para os meus, reservo muita paciência. Não sou e nunca fui fácil, porque vejo o mundo de uma forma diferente. O mundo que é meu porque o vejo deste modo. Não o invada. Não o bombardeie.
Meu mundo é uma junção de idéias que vou evoluindo à medida que o Deus Tempo permite, a cada ano, década, segundos. Eu tenho o meu próprio tempo. E em cada momento, um sabor diferente aparece em meu paladar. Às vezes ácido, outras vezes doce. Nem sempre o mesmo: dissabores.
Quando amo, quando odeio, tenho mil formas de dizer o que se passa na minha cabeça. Por isso escrevo e vou respondendo às perguntas iniciais quando as respostas se manifestam. E geralmente, elas são enigmas, uma grande interrogação. Uma poesia concreta. Decifra-me ou devoro-te.
E quase sempre, sou devorado!


Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).