Olhos de mar
Mergulho neste lago translúcido, onde a luz atravessa o brilho suave de teu olhar. Suspendo a respiração, sigo em direcção à porta da tua alma, neste oceano cristalino de teus olhos. És mar que me cinge o corpo, que me segura a alma para que não transborde dos lábios. Recebes-me envolta num manto de cetim, qual rainha, teus cabelos oscilam nas águas tépidas deste imenso mar. Estendes-me a mão num convite, deixo que me leves, suspenso nestas águas tranquilas. Atravessamos o portal das marés, limite entre o mar salgado de teus olhos e o ar perfumado do teu mundo.
Levas-me, como se me conhecesses há uma eternidade, como se soubesses que viria e me esperasses. Aqui o tempo perde-se por entre a folhagem das árvores que se agitam numa leve brisa de eterna Primavera. Os pássaros são pequenas notas de música que se soltam na atmosfera carregada de essências silvestres. Escuto a tua voz, como se viesse do nada e me chegasse acompanhada por estas melodias que dançam em nosso redor. Dançamos, ali mesmo, sobre a erva fresca, como se o dia não seguisse sem nós.
Em teus braços sou pedaço de brisa, maresia da manhã que em teu corpo se cola, resvala numa carícia intensa que meus dedos dispersam por toda a tua pele. Sinto os teus lábios de orvalho tocarem os meus, num beijo húmido, profundo, deixo fechar os meus olhos, o meu corpo fluir em ti, como se fosse água pura onde mergulhas.