[Declarações do Corpo]

O meu corpo é que tem dedos que escrevem,

boca que come, bebe, beija e fala;

portanto, não sou eu — ou minto?! — é o meu corpo,

a minha boca que assim resolve e declara:

Diluído no mundo, eu?

Fragmento ímpar de outras diluições

que nem conheço, não sei de onde vêm?

Eu, que não creio no inconsciente,

tenho minha linguagem eivada

de brotações de obscuras orígens?

Meus pensamentos - uma cópia

mal retocada de pensamentos

de algum antípoda ignorado por mim, de mim?

E por sua vez, a linguagem, a fala,

e até os pensamentos de outros seriam

permeados de fragmentos captados... de mim?!

E os meus sentimentos, sensações,

dores, penas, amores — seriam

também emplastados em meus olhos,

minha face muda, meus ombros caídos?

Mistificações, fátuos fogos, avantesmas

uns dos outros, na crista do tempo vagante?

Meros repassadores, reles estações de repetição?

Os humanos — somos apenas isto?!

Simulacros filhos do Tempo — quem somos nós, afinal?!

Aquele que decretou a "morte do autor",

será que reconhecia-se também... um simulacro?!

Quem, quem somos nós? Os nossos corpos:

mais nos escondem que nos declaram?

O meu corpo e a minha fala: contradizem-se,

entram em choque para esconder-me de mim?

— Sabe... comunicação, às vezes, é assim, olha só:

enquanto a minha fala bebe o vinho da tua fala

o meu corpo transborda de desejo do teu corpo!

O resto não nos concerne — é silêncio de morte!

Eu, arauto maior do Óbvio,

estou é me lixando para

a minha,

a tua,

a nossa,

a de todo o mundo,

originalidade de discurso!

[Penas do Desterro, 02 de setembro de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 02/09/2009
Reeditado em 01/07/2012
Código do texto: T1788385
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