LUTA INGLÓRIA
Ela já tinha vida demais para cair naquele lago atraente em mergulho cego, pelo menos era isso que queria enfiar à força na sua cabeça. E encontrar um argumento totalmente irrefutável pra finalmente sossegar, o que significaria continuar pra sempre naquela modorrenta vidinha, mas cheia de razões e certezas enfiadas goela abaixo e nunca digeridas. Ninguém, senão ela, saberia que isso tudo ficava somente à altura do estômago, ou ocupava um ponto perdido na sua memória. E nos dias claros e nas noites de lua insuportavelmente instigantes, ficaria à janela desejando jogar-se naquele precipício atraente à beira do qual suas pernas não a levavam, seu silêncio gritaria tanto até o insuportável, mas assim mesmo a surdez auto impingida não a faria mover-se. Pois muito mais do que os seus motivos aparentemente lúcidos, havia uma outra de si mesma que se tornara sua guardiã implacável, aquela forjada no lodaçal subconsciente e sombrio, e que resoluta, erguia-se monstruosa e ameaçadora, sempre que alguma luz se anunciasse no andar de cima.