VIDA PIRATA

VIDA PIRATA.

É incomum chegar-se aos quase sessenta anos, sem que nada tenha

De esplêndido para contar...

Ora, como não? Se todo mundo tem...

Tem histórias fabulosas, tem fotos maravilhosas,

De viagens lindas que fez... se não foi ao Egito, mas foi a Campos, na serra.

Tiveram lindos e perfeitos e inteligentes filhos, netos de muita sagacidade...

E ainda vai dançar no baile da terceira idade...

Eu olho pro meu passado, quase sempre sem querer vê-lo,

Jogo-o fora sempre, como se fosse o lixo de cada dia...

Pra que preservar o que só pra mim foi verdade?

O que só pra mim trouxe dor?

Nem um resquício de saudade!

Ah! Minha vida! Ah! Minha dor!

Porque insistes em se apresentar vez em quando,

Sabendo que não é bem-vinda?

Lembranças mortas que ainda vivem

E teimam em serem eternas.

Não... Não quero deixá-las de herança genética espiritual pra nenhum ser!

Vou queimá-las antes de perecer, eu juro que assim vai ser!

Já chega de tanto engodo, já chega de tanta farsa!

Meu Deus como pude abraçar tanta inverdade, tanta maldade, tanta insanidade!

Oh! Coração que em meu peito bate,

Desculpe-me os maus tratos,

Até te fiz querer parar antes da hora marcada,

Dou-te razão, trabalhastes muito ,

Em demasia pra suportar o caminhar

Numa vida de mentiras,

Descendo numa escalada dolorida

De uma vida sofrida,

De uma vida inventada,

De uma vida pirateada.

Verônica Jacó de Souza

Guaratinguetá SP, 29/08/2009