Perdoa-me
Perdoa-me, mas estou farta. Foram excessivas noites à tua espera no sofá da sala, de unhas pintadas e roupas para te agradar. Quiçá em vão cada hora, noite a dentro, à escuta da buzina na frente de casa.
Mas agora estou a envelhecer, meu amor, a vida já não me deixa que use as minhas madrugadas num poema de choro. As minhas costas estão doendo e os lençóis nos quais tinha entornado uma xícara de chá foram para lavar.
Quando voltares, ao bom aspecto de nômade-revolucionário, já terei adquirido outros, mais alvos que estes e com uma renda da cor do céu.
Chorei muito, mais por mim do que por você, e agora tenho que esquentar uma bolsa de água quente dantes de ir dormir.
Há meses que não te vejo. Pode ser que um dia destes me batas à porta e eu me esqueça das mil noites em que chorei por não te ter junto a mim.