Meus brinquedos
(Inspirado em Mário Quintana)
Quando n´uma imprecisa meia noite o vento soprou forte, o Deus Eolo viajou de um mediterrâneo antigo , e provavelmente deve ter sacudido a alma poética de Quintana, intimando-o para que ele não fosse apenas mais um Mário no armário humano. E o poeta gaúcho em inspirados versos disse que durante a ventania “pendurou na galharia torta seus brinquedos de criança” ...
Não sei quantos brinquedos você teve quando você foi criança, mas sei que eu os tive em pequena , (pequeníssima) , quantidade . E o que de certa forma ameniza esse contexto é que na roda gigante do tempo – lá bem embaixo – quando eu era criança não existiam enormes variedades de brinquedos , inclusive, a engenhosidade do homem ainda não havia inventado a chamada “tecnologia eletrônica” aplicável aos brinquedos.
Éramos crianças , simplesmente – e não pequenos consumidores ...
No máximo os piás mais premiados e cujos pais possuíam condições financeiras ostentavam uma bicicleta ou uma bola de couro, nada que a gente não fosse dividir durante as brincadeiras e os jogos de futebol , cujas partidas aliás , muitas vezes eram disputadas na própria rua do bairro, onde o risco era mínimo , pois só vez por outra trafegava um carro e a gente se arredava para a calçada – aguardava calmamente a passagem do veículo – depois ... bola pra frente !
A criatividade de uma época que nem está assim tão longe na medida do tempo , mas está a uma distância abissal em termos tecnológicos, impunha-nos inventar brinquedos e ao mesmo tempo compartilhar a escassez dos que tínhamos . Com pedaços de canos de antena de televisão criávamos arminhas que disparavam como projéteis sementes verdes de sinamono . Os bodoques (estilingues) eram fabricados com borracha de câmara de pneu de bicicleta ... travessuras garantidas !
Hoje o Deus grego do vento passou na minha noite e sacudiu com ferocidade meus sonhos, quando apareceu a figura emblemática e salvadora do distinto Mário - cara de bom velhinho - que recitou seus versos com a mesma desenvoltura do jogo da melhor de todas as bolas da infância – a bola de meias velhas recheadas de palha seca – então viajei nos sonhos abandonando a ilusão adulta de que se esquecem os brinquedos de criança “pendurados em galhos tortos”. Eu também – como o Mário/poeta - no embalo de seus versos , quero- os de volta ...