Minha Tarde Nossa
Nas tardes de ócio
Experimentamos nossas virtudes: todas escancaradas e cavando restos
Quiséramos nós, estar de colchas nos varais a chacoalhar com o vento
Declaramos, impudicamente, um amargor natural
Um dia a mais.
Nas tardes vazias
Vemos o que temos e quase sempre não temos nada a declarar
Inovamos em sentimentos e exprimimos as lacunas nos alvéolos da ilusão
Primamos pela amplitude mais gasta dos ferozes resquícios
Aperfeiçoamos um leito de retóricas melodiosas, os sustenidos duma tensão que aflora e se abriga.
Nas tardes esquivas
Lembramos que outrora, fomos gente: apelativa ou indiferente, que marcamos época.
(Uma salva de palmas!)
Pobres nos gestos, podres incertos, nobres objetos de náilons entrelaçados
Entramos em terreno odioso, sem supras externas.
Nas tardes sombrias
Escutamos nosso tédio em suas vertentes mais duras
Escapamos ilesos de turvas suposições
Navegamos até pra lá dos limítrofes beirais
E todas às vezes, as quais buscamos a paz, há, na obra,
Interpolação e mais.
Nas tardes insossas
A clamar por mim, derrubo uns sorvos
Deveras oportunos, lavando as calçadas e preparando os turnos e as barras das calças.
A consciência não se habilita... e quem haveria?
Dormimos assim: internos e perplexos.
Nas tardes sem nexo
As freqüências se agrupam
Geram nós, às pencas
Por aí, não se sabe quantos de nós se encavalam
É aí que o anseio de vingar, faz a fome se alinhar
No perpétuo socorro, meramente obscuro e brando
E a inanição fornece pães às bocas.
Nas tardes como esta
Acenamos no espelho
Enlevamos nossas certas mentiras, sentadas e pasmas
Elas nos querem hoje, a desopilar sentidos
Sou eu ali a ouvir, a nos servir
Tendas a postos, alvitres leais
Sombras, calafrios, cânceres e pesos mortais
De uma tarde magnífica.