Minha Tarde Nossa

Nas tardes de ócio

Experimentamos nossas virtudes: todas escancaradas e cavando restos

Quiséramos nós, estar de colchas nos varais a chacoalhar com o vento

Declaramos, impudicamente, um amargor natural

Um dia a mais.

Nas tardes vazias

Vemos o que temos e quase sempre não temos nada a declarar

Inovamos em sentimentos e exprimimos as lacunas nos alvéolos da ilusão

Primamos pela amplitude mais gasta dos ferozes resquícios

Aperfeiçoamos um leito de retóricas melodiosas, os sustenidos duma tensão que aflora e se abriga.

Nas tardes esquivas

Lembramos que outrora, fomos gente: apelativa ou indiferente, que marcamos época.

(Uma salva de palmas!)

Pobres nos gestos, podres incertos, nobres objetos de náilons entrelaçados

Entramos em terreno odioso, sem supras externas.

Nas tardes sombrias

Escutamos nosso tédio em suas vertentes mais duras

Escapamos ilesos de turvas suposições

Navegamos até pra lá dos limítrofes beirais

E todas às vezes, as quais buscamos a paz, há, na obra,

Interpolação e mais.

Nas tardes insossas

A clamar por mim, derrubo uns sorvos

Deveras oportunos, lavando as calçadas e preparando os turnos e as barras das calças.

A consciência não se habilita... e quem haveria?

Dormimos assim: internos e perplexos.

Nas tardes sem nexo

As freqüências se agrupam

Geram nós, às pencas

Por aí, não se sabe quantos de nós se encavalam

É aí que o anseio de vingar, faz a fome se alinhar

No perpétuo socorro, meramente obscuro e brando

E a inanição fornece pães às bocas.

Nas tardes como esta

Acenamos no espelho

Enlevamos nossas certas mentiras, sentadas e pasmas

Elas nos querem hoje, a desopilar sentidos

Sou eu ali a ouvir, a nos servir

Tendas a postos, alvitres leais

Sombras, calafrios, cânceres e pesos mortais

De uma tarde magnífica.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 17/06/2006
Código do texto: T177516
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