As pipas
Em papel de seda dobrou imagens
Criou com suas mãos de seda
Ou de pétalas, para não machucar
Mãos que se usa para o sagrado
Usou antes a seda rosa depois a azul
Rosa rara e azul celeste pensava ela
Enquanto desenhava imagens na alma
Imagens destas que são arte para sempre
Fazia pipas... uma rosa e uma azul
E as queria delicadas, sensíveis as suas cores
E um tanto forte para que não sofressem tanto aos ventos
Para que resistissem nos tempos dos lamentos
Ah... somente Deus, deuses, os pássaros, as montanhas
São capazes de recepcionar no céu de cada dia
Pipas rosas e azuis criadas assim
É infinito como o céu o sentimento da criação
E assim foi feito, assim foram feitas as pipas
A rosa e a azul
E havia harmonia entre essas cores, nas dobras,
Nas imagens resultadas de cada uma
Nas manhãs seguintes subiu a montanha levando as pipas
E foram muitas manhãs, algumas de fortes ventos outras de ventos quentes como carícias
E as sedas sentiam os diferentes tempos do tempo sem se soltarem da escultora de imagens
Certa manhã, destas que o sorriso é aberto, que a pele sente irradiar calor
Que o coração esbanja razões de existir
Ela levou as pipas, era momento de partir
Partir, voar, viajar é destino das pipas
Subiu com elas a montanha pela última vez
Amarrou as linhas no corpo de cada uma delas
E as atou ao seu dedo médio, deixou que elas voassem
Cada vez mais alto, cada vez mais livres
Elas voaram tanto e aprenderam muito
Mas faltava mais tanto e aprender é sempre
E pronta não estará a vida como a pipa feita sendo olhada
E ela olhava de baixo para cima até apertar os olhos pra enxergar
Elas voavam até então atadas ao dedo
Vôos planados, vôos vazantes, vôos belos, ora torturantes
A escultora soltou o dedo e sozinha
Desceu a montanha ao findar daquela manhã
* Para meus filhos