POESIA CONCRETA
Poesia concreta, de concreto
de cal, de cimento
de apertos na alma, de apartamentos
de migalhas de cérebros ao vento.
Poesias concretas, poesias abstratas
impressões, loucuras oníricas
obras dos deuses e dos anjos
desatinos dos demônios
ilusões conduzindo ao nada.
O poeta insiste, resiste
corre, cansa, não alcança
esperneia esbaforido
sem se dar conta que já está vencido.
II
Com um lenço branco aceno para o avião
de nada vale o sinal de rendição.
Soldado morre soldado, não morre homem comum
então eu não morro
o relógio me atrasa
e eu sobrevivo ou subvivo
para a glória dos homens incomuns.
O relógio sempre pára
para os que são expelidos
da coisa chamada vida
para os que são explodidos
pela bomba ou pelo avião
e nas alturas das torres
pensam que no céu estão
com o dólar ou com a malária
de Manhattan ou do Sudão
devorados pela aids
banidos pelo leão
do capital ou da savana
são heróis da resistência
e da globalização.
III
Um homem se diz presidente
ele tem ideias e ferramentas
ele sorri, a nação sorri
ele chora, a nação chora
ele erra, a nação erra
ele governa, a nação não governa.
Governo com o presidente
tomo Viagra, fico impotente
pela falta de clemência
a um camelô que foge
do rapa ao som do rap
suja o asfalto de sangue
a calçada de muambas
o gás e o cassetete
e uma bala perdida
que achou seu ombro esquerdo
e o deixou no chão, inerte.
Escombros do avião
o mundo todo em chamas
da Torá ao Alcorão
Ateiam fogo nas templos
de Mohamad e de Abraão.
Mil e uma noites brilham
com o petróleo a borbulhar
céu desfeito em Nova Iorque
inferno feito em Bagdá
chuva de balas no Rio
lama no Paranoá.
IV
Um homem bomba estoura
um carro mata a gente
esbarra numa calçada
colhe um menino africano
um boliviano bêbado
um indiano andrajoso
um paulista apressado
nordestino esperançoso
de acabar tanto descaso
pela mão do presidente
que reuniu tanta gente
das fábricas e do país
no palácio hoje não diz
se veio pra governar
ou apenas pra mostrar
que foi capaz de subir
na vida ou no avião
que o levou mundo afora
_presidente, e agora?
o que o senhor vai fazer
com essa crise, essa fome
que o senhor diz que é zero?
Presidente, hoje o que eu quero
é não sofrer mais assalto
de Garanhuns ao Planalto
o senhor foi campeão
diga sem hesitação:
se o senhor fosse doutor
acabaria com o terror
ou voltaria ao sertão?
JOEL DE SÁ
22/08/2009.