DAS PRIMEIRAS LETRAS...À ORAÇÃO PRINCIPAL
Empunhei a pena e lentamente a deslizei no papel.
B com "a" ba...
Tudo na vida demanda esforço, e essa FOI A ÚNICA lição que ninguém me ensinou.
Ajoelhei-me , rezei um "Pai -Nosso" antes de dormir e pedi as bençãos a todos os superiores.
Levantei os ombros e entoei o Hino, e ali, as honras eram diárias.
Decorei a tabuada e respeitei meus mestres.
Conheci a Bíblia, e me encantei com os Salmos, posto que
para mim, (eu não sabia!) nascia a poesia, na garganta de Davi.
Ganhei uma boneca de nome Jaqueline.
Acreditei em Papai Noel porque ele existia.
O homem chegou à lua, lembro-me vagamente de Woodstock!
Ganhei um violão, e conheci Caetano Veloso, e soltei a voz!
Eu também não tinha lenço...tampouco documento.
Identidade é um lento processo...de vida.
Aprendi a detectar a oração principal...e as subordinadas.
Certo dia, vi nascer o sol dos anos dourados.
Fiz tantos amigos...
Assustei-me com as "regras". Estão rindo?
No meu tempo, "as regras" tinham cor de sangue.
Senti certas mãos nas minhas mãos e um frio na barriga.
Não conhecia esse négócio de amor...e deixei passar.
Li um poema de Casimiro de Abreu e foi o primeiro poeta que me ensinou a sonhar.
Acreditei que daria certo.
Ganhei um canudo...porque meu pai dizia que era importante se letrar.
Também acreditei. No meu tempo não se contestava os "pais"... e até
as mães os obedeciam.
Minha grinalda tinha uma tiara de pedras da Índia,
e nela brilhou um quase efêmero tule branco....de vinte anos.
Branco "de verdade".
Vi meu ventre crescer, e aquela seria minha maior alegria.
Acompanhei as "diretas já", e depois perdi a direção. Nunca mais a encontrei...e sei que não sou a única.
Esse depois perdura no hoje .
Assisti tantos outros teatros...
Esbarrei no muito que "deixei passar" e aprendi que nunca se volta no tempo.
Sofrido aprendizado!
Aprendi que amor é pedra rara e não produto de consumo.
Feliz aprendizado!
Então fiz poemas...e mais poemas.
Dizem que são as neuras (mas as da consciência!) que escrevem poemas. Acredito.
Deve ser para isso que hoje tenho identidade...
Meu Papai Noel morreu, mas todo ano ele volta.
Sei que cresci...e como dói crescer.
E hoje , quando entoô aquele mesmo Hino, levo uma mão no peito e a outra na garganta! Agradeço por ter duas mãos!
Mesmo que as regras já não tenham cor de sangue.
Sinto o meio, sinto medo...e respiro fundo.
Aprendi muitas coisas...e ainda tento,
porque jamais encontrei o sujeito das orações principais.