Alvorada e Deserto

O mundo aguarda, desce uma estrela

Paredes em limbo, dunas em movimento

Minguam as fontes, agrestes sob o teto.

A distância e a ausência embalam rumores

Nas frestas, o frio agoniza.

Entre os planos, os anos nos panos, nos lençóis

Hesitantes as meias idéias, moribundas

Açoitam e ferem, deflagram torpor, insano na dor.

Com trancos nos flancos, cedem os troncos

Nas águas turvas procuram o rumo, morrem os faróis

Espadas a emanar luz, a nadar com graça

Vai e vem dos modos, de brumas e nódulos.

Pureza rejeitada, solidão se avizinha

Na linha da vida, tomo de espera

Afugenta a paz interna, ínfima e tosca um sopro enterra.

Toda a magia é dizimada

Escutam-se vozes de silêncio aborrecido, pobres anseios.

Um estouro, um blecaute, dornas fermentando

Observa a irmã, intempestiva omissão.

As pétalas cedem e o enfado nas sépalas reage ao vento,

Encarquilha, degenera-se.

E traz pra dentro, pálidas lembranças, cálidas no tempo.

Assistindo a tudo, minúcias escaldantes

Em contato com a lava, apenas instantes

Pífios amores, passados em cores, apenas rumores.

Esvaem-se na chuva, as liras, as angústias

E os sonhos da véspera intercedem enfim

A fria brisa, quente em tudo, abstém-se em nada

Complacente e quente a acariciar o vencido.

Suavemente, o leito aquecido e emplumado

Dispensa mera atenção ao semblante sábio,

Assaz carregado.

Por telepatia, a vida se estende

E a lua cede ao sol, o trono presente.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 16/06/2006
Código do texto: T176454
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