VENTO VENTANIA

(Dizem que quando não se tem o que falar, fala-se do tempo...não é bem este o caso, na verdade vou falar do tempo porque merece um texto)

De repente começou a ventar. Meu prédio fica num lugar alto e pode-se dizer que é aqui onde o vento faz a curva, literalmente.

O vento assobia como quem tem algo a dizer - e diz.

Ouço ao longe portas batendo e janelas estremecendo, também aqui no apartamento o vento agita os adornos pendurados e os sinos – de vento. As janelas ensaiam uma sinfonia desafinada. O som é intenso e sinistro. Parece que no hall alguma coisa está solta e freneticamente dançando, abro a porta para ver: Um tapete, que não é mágico, mas se aventura quase saindo pela janela aberta. Resolvido o problema volto as palavras que também parecem soltas ao vento...sono e frio nunca foram bons companheiros, não somam, pelo contrário dividem e reduzem. Mas há algo poético lá fora, na noite cheia de sons e efeitos. Agora chove e o vento nem pensa em desaparecer, uma chuva de vento, gelada e grossa. Na terra da garoa parece que a qualquer momento vai cair uma tempestade daquelas que só vejo em março, no Rio de Janeiro.

No vão entre um prédio e outro do condomínio o vento grita ora derrubando coisas das sacadas, ora agitando as palmeiras. As azaléias perdem seu colorido e as flores parecem confetes de carnaval. Um rede-moinho desfila embaixo da minha janela: poeira, folha, alguns objetos não identificados, com certeza aqueles que – não sendo biodegradáveis – demoram séculos e séculos para se desfazerem no ambiente – como as guimbas (ou bitucas) de cigarro.

O vento continua a dizer - alto - as perversidades que cometemos contra a natureza. Reflito e quase me apavoro com a possibilidade de um furacão.

Com certeza o noticiário da manhã terá espaço para a velocidade do vento na noite. E a mocinha do tempo vai anunciar chuva e ventos mais fortes.

Cai alguma coisa mais pesada não muito longe daqui e ouço um cachorro, mas o vento não se cala, agora sussurra e convida-me a cama...

"Vento ventania, me leve sem destino..."

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