Na Surdina, O Cego Resplandece

Ofereço à chuva

Todo um mundo de sofrimentos entreabertos

Pasmados de estranhezas, como tumbas sagradas

Estúpidas chamas que atingem a persistência.

Ofereço à chuva

A minha indignação perante a vida

As esporas enrustidas nos detalhes

E a insatisfação plausível e fundada.

Ofereço à essa chuva

Uma extensão de minha inspiração

Um alento de uma poesia arqueada na história

Em dizeres mais que polidos, desgastados.

Ofereço à chuva

O ódio ao ausente

E as dísticas fases de aventureiros coesos

Espumando obsoletas e orgânicas verdades,

As quais minhas dívidas pairam em dúvidas.

Ofereço à essa chuva

Um brinde às atrocidades verbais

Que integram e, impunemente, assistem ao naufrágio

Às histórias infames que emudecem os sonhos.

Ofereço à chuva

A indisposição excêntrica e o legado divino

Restos de memórias, frágeis como cálices

À minha exclusão perante a maioria

Ofereço a você, fiel testemunha

A incipiente nota do declínio

Aos agouros de um súdito delírio

Que agora se acomoda ao deleitar-se

Com o descanso oferecido pela chuva.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 15/06/2006
Reeditado em 29/01/2007
Código do texto: T176175
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