Na Surdina, O Cego Resplandece
Ofereço à chuva
Todo um mundo de sofrimentos entreabertos
Pasmados de estranhezas, como tumbas sagradas
Estúpidas chamas que atingem a persistência.
Ofereço à chuva
A minha indignação perante a vida
As esporas enrustidas nos detalhes
E a insatisfação plausível e fundada.
Ofereço à essa chuva
Uma extensão de minha inspiração
Um alento de uma poesia arqueada na história
Em dizeres mais que polidos, desgastados.
Ofereço à chuva
O ódio ao ausente
E as dísticas fases de aventureiros coesos
Espumando obsoletas e orgânicas verdades,
As quais minhas dívidas pairam em dúvidas.
Ofereço à essa chuva
Um brinde às atrocidades verbais
Que integram e, impunemente, assistem ao naufrágio
Às histórias infames que emudecem os sonhos.
Ofereço à chuva
A indisposição excêntrica e o legado divino
Restos de memórias, frágeis como cálices
À minha exclusão perante a maioria
Ofereço a você, fiel testemunha
A incipiente nota do declínio
Aos agouros de um súdito delírio
Que agora se acomoda ao deleitar-se
Com o descanso oferecido pela chuva.