PERDAS DE INFÂNCIA
Recordo, quando ainda criança
Encantava-me o colorido das flores,
As cigarras, com seus sons estridentes,
O bailar dos vagalumes enfeitando a noite,
O pai, jovem e forte, voltando para casa,
A voz de minha mãe anunciando o jantar.
Havia em mim uma ternura natural
Que brotava em um manancial inesgotável.
Até que um dia batizei esta ternura
E Ingenuamente dei-lhe o nome “DE AMOR”.
Passei a procurar alguém que fosse capacitado
Que o merecesse e docemente pudesse recebê-lo...
Sobrevieram os sonhos, as ilusões, as fantasias,
Aprendi a ser desconfiado, atento aos gestos,
A estudar os olhares, das beldades que me rodeavam,
Se iriam acariciar, ou se falsos, atraiçoar-me.
Enchi-me de medos, passei a viver inquieto,
Adicionando a minha doçura, a vaidade e o egoísmo,
E o meu largo caminho estreitou-se, transformado,
Em um perigoso e profundo desfiladeiro
Onde só posso continuar em fila única.
Cerquei-me de pedras frias, achando-me protegido,
E ingeri esfomeadamente aquele pão!...
Temendo que algum dia me faltasse.
Na perda de minhas virtudes, comecei ansiosamente
A esperar da vida, a implorar por certos milagres,
Acreditando ser supérfluo o toque de carinho
E abdiquei das valiosas e sinceras amizades.
Esqueci do menino, brincando enternecido no jardim,
Que com pureza beijava as pétalas aveludadas das rosas.
Embora jovem! Em mim a seriedade dos adultos,
Em uma liturgia concentrada em tristezas,
Encerrado em um casulo, prisioneiro do passado,
Impossibilitado de sorrir, de ser completamente feliz
De meus dias, digiro o amargo, saudoso e decepcionado.