MONÓLOGO EM CRONIQUETA

(POETISA COM TPM)

(aos poemas lançados ao lixo)

Sai de mim poema, pegue a sua poesia e dê o fora. Deixe-me só; não quero sua emoção, preciso ser prática; preciso decidir o que calçar para ir ao compromisso de mãe e de esposa.

Sai de mim, poema. Não vês que estou a lixar as unhas com a pressa de quem precisa sair.

Sai de mim poema, agora. Eu não tenho tempo de ir ao papel e não quero ficar a repeti-lo para não o perder.

Já sei! A culpa deve ser de Haydn, e se é por isso que está aqui a bulir em meus pensamentos, tiro-o já da vitrola e com a música dele vá você também para o silêncio; cale-se, pare de assoprar aos meus ouvidos, porque agora eu não te quero, estou sem paciência para te ouvir.

É sim, descobri, é este piano que o deixa todo prosa; todo lírico a empestear a sala; até àquele pobre vasinho sobre a mesa! Sai intrometido...sai também desta flor que não te pertence.

Ahhhh! Não vai sair?!

Pois isso é o que vamos ver. Desligo a vitrola, cubro o vaso com este pano horroroso e pronto; chega, sai daqui.

Aí...Eu falei que não te queria por perto, olha só, você me fez borrar as unhas.

Mas, espera lá, agora será infalível, quero ver você continuar...click.

(assistindo à novela).

Juliana Canezim
Enviado por Juliana Canezim em 17/08/2009
Reeditado em 17/08/2009
Código do texto: T1759689
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